Elmord's Magic Valley

Computers, languages, and computer languages. Às vezes em Português, sometimes in English.

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Um teto

2015-04-20 23:05 -0300. Tags: misc, philosophy, em-portugues

Hoje de madrugada eu acordei com algumas cousas na cabeça que não tinham nenhum motivo aparente para estar lá. E foram as seguintes:

Você provavelmente já ouviu a teoria de que a vida na Terra veio de outro planeta. (Ignoremos o fato de que isso não explica absolutamente nada sobre a origem da vida.) Normalmente a idéia é que a vida surgiu em algum outro lugar e se espalhou pelo universo, veio de brinde num asteróide, etc.

Você também já deve ter ouvido a idéia de que nós vivemos dentro de uma simulação. A idéia é freqüentemente motivada pelo fato de que algumas coisas no nosso universo parecem ter comportamento discreto (i.e., "digital").

Mas e se fosse um pouco diferente...

* * *

Imagine que houvesse uma forma de vida inteligente completamente diferente da nossa (não baseada em DNA) em algum canto do universo. Um belo dia, meio que por acaso, os pesquisadores do planeta Xrbna descobrem essas cousas que nós chamamos ácidos nucléicos, aminoácidos, etc. Talvez inicialmente eles tivessem chegado nessas moléculas puramente teoricamente, i.e., alguém estava ponderando sobre "o que aconteceria se eu montasse uma molécula assim assado" e se deu conta de que ela tinha propriedades interessantes. A galera continua brincando com essas entidades, teorica ou fisicamente, mais ou menos como a galera começou a experimentar com configurações de Life nos anos 1970, até que alguém descobre uma configuração particular que é capaz de produzir cópias semi-idênticas de si mesma. Animados (ou o equivalente alienígena de animados), os xrbnanianos resolvem criar versões físicas da molécula e colocá-las em um ou alguns planetas (de preferência bem longe deles) para ver o que acontecia. Em (pelo menos) um desses planetas, ao longo de alguns bilhõezinhos de anos, aconteceu um bocado de coisas.

Now, eu não estou propondo que foi assim que a vida terrestre surgiu, mas eu estou interessado no cenário. Se a vida na Terra tivesse surgido assim:

Agora suponha que nós déssemos um jeito de criar um equivalente físico de Life ou algo similar. Será que em algum ponto esse sistema desenvolveria consciência? Será que nós reconheceríamos a consciência quando a víssemos? Nós seríamos capazes de entender o que se passa na "cabeça" desse sistema? Nós já temos dificuldade de entender o que se passa na cabeça de outras criaturas vivas mais distantes de nós; nós seríamos capazes de entender uma criatura de uma natureza completamente diferente da nossa? Que outras coisas podem ser "conscientes" à nossa volta sem que nós saibamos? Faz sentido usar o termo "consciente" nesse contexto, ou será que haveria outras propriedades tão interessantes quanto consciência nesses sistemas, mas tão diferentes de o que nós chamamos de consciência que esse termo não seria aplicável?

Quais seriam as implicações éticas de "matar" um jogo de Life "gone conscious"? O jogo só é consciente se for implementado fisicamente, ou uma simulação também é consciente? E se a simulação for feita com papel e caneta ao invés de por uma máquina? E se eu escrever uma fórmula fechada f(i) que calcula o estado do jogo para cada iteração i, a fórmula é consciente, ou "contém consciência" de alguma forma? Se não é, por que não? Em que ponto a informação contida na fórmula se torna consciência?

* * *

Esses questionamentos não são nenhuma novidade para os filósofos, e eu já tinha lido coisas similares na vida, mas acho que essa é a primeira vez que eu realmente entendo ("grok") o problema. Acho que é hora de eu ler o Gödel, Escher, Bach de novo.

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A personal appeal

2013-10-04 23:20 -0300. Tags: misc, em-portugues

[Creepy Jimmy Wales]

Alguns meses atrás eu tive este diálogo:

them: onde tu aprendeu tantas coisas?
me: na Wikipédia, a fonte de todo o conhecimento :P
them: achei que nas aulas de história
them: =P
me: pfff, aulas
me: a parte boa de estudar em colégio público é que eu tinha um horror de tempo livre pra ler a wikipédia :P
them: tb estudei em colegio publico
[...]
them: mas na minha época internet não era tão difundida
me: fora que quando eu tava no ensino fundamental eu não sabia inglês suficiente pra ler a wikipédia :P
me: na real eu meio que aprendi inglês lendo a wikipédia
me: cara
me: cara
me: ano que vem acho que eu vou fazer uma doação pra wikipédia :P
them: =D
them: se rendeu aos encantos deles?
me: não, cara
me: só me dei conta de que eles são mais responsáveis pela minha educação do que o colégio :P

Eu tenho usado a Wikipédia quase que diariamente nos últimos sete anos. Este ano a Wikipédia começou a aceitar doações por boleto bancário no Brasil, então resolvi fazer uma doação (de 20 pila) pela primeira vez. Doações podem ser feitas por aqui.

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13.0.0.0.0

2012-12-21 00:16 -0200. Tags: misc, random, em-portugues

É, galera, o mundo pode não ter acabado, mas pense pelo lado bom: você não só presenciou a virada do milênio, como também a virada do b'ak'tun. 2038 nos espera.

Feliz solstício, por sinal.

(O próximo post há de ser algo útil. Talvez.)

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Fim do mundo?

2012-05-26 03:53 -0300. Tags: misc, em-portugues

Para a decepção generalizada, o mundo não acaba em 2012, pelo menos não segundo qualquer predição maia.

Os maias usavam dois calendários para a contagem comum de dias, também usados pelos astecas e outros povos mesoamericanos: o Haab' e o Tzolk'in.

O Haab' é um ciclo de 365 dias, divididos em 18 meses de 20 dias, mais cinco "dias sem nome", considerados dias de azar. Os maias tinham conhecimento de que o ano solar é mais longo do que 365 dias, mas não se davam ao trabalho de inserir dias extra no calendário para compensar a diferença; ao invés disso, eles preferiam calcular a divergência na mão quando necessário. (De fato, a estimativa maia, de que 1508 anos do Haab' correspondem a 1507 anos solares, é mais precisa do que a correção do ano bissexto usada no calendário gregoriano.)

O Tzolk'in é formado por um ciclo de 13 dias numerados e um ciclo de 20 dias com nomes próprios. Os dois ciclos andam em paralelo, o que produz 13×20 = 260 combinações diferentes (já que 13 e 20 são coprimos); após 260 dias, as combinações começam a repetir. Por que diabos os mesoamericanos usavam um ciclo de 260 dias é uma boa pergunta. Especulações não faltam; uma delas é de que 260 dias é aproximadamente a duração de uma gestação.

O Haab' e o Tzolk'in andam em paralelo, produzindo um ciclo que se repete a cada mmc(365, 260) = 18980 dias, ou 52 anos do Haab'. Esse ciclo é chamado de "volta do calendário". (Os astecas acreditavam que a cada final de ciclo de 52 anos o mundo corria o risco de acabar, e sacrificavam um camarada para satisfazer os deuses. Na verdade eles sacrificavam um camarada por basicamente qualquer coisa, but I digress.)

Esses calendários são todos cíclicos: eles simplesmente repetem depois de um período de tempo, e portanto não servem para datar eventos históricos. Para isso, os maias usavam um outro calendário, conhecido por Long Count. Similar ao relógio do Unix, o Long Count conta o número de dias desde "a data da criação": 11 de agosto de 3114 a.C. Os maias usavam um sistema de numeração de base 20: a posição menos significativa vale 200 = 1, a segunda 201 = 20, a terceira 202 = 400, etc., e cada dígito varia de 0 a 19. No contexto do calendário, entretanto, fazia-se com que o segundo dígito variasse apenas de 0 a 17, de modo que o peso do terceiro dígito fosse 20×18 = 360, e não 400, aproximando a duração do ano. Costuma-se transcrever as datas separando cada dígito por um ponto. Assim, a data deste post é 12.19.19.7.11:

      12 × 144000
    + 19 × 7200
    + 19 × 360
    +  7 × 20
    + 11 × 1
 ----------------
 1871791 dias desde a "criação"

O que acontece em 2012 é que em 20 de dezembro o calendário atinge o 12.19.19.17.19, e no dia seguinte vira para 13.0.0.0.0. O que, obviamente, representa o fim do mundo. Por quê? Porque dá mais dinheiro assim. Os maias nunca disseram que o mundo acaba ou sofre qualquer mudança no 13.0.0.0.0. De fato, os maias não tinham o hábito de predizer eventos arbitrários para o futuro: as "predições" que se costuma encontrar em monumentos são do tipo: "daqui a 10.11.10.5.8 dias, ocorrerá a 80ª volta do calendário desde a ascenção do camarada X ao poder". Isto é, quando os maias se referem ao futuro, normalmente é por meio de verdades absolutas (com toda certeza ocorrerá a 80ª volta do calendário na data especificada: é um fato matemático). Sendo assim, de onde saiu a idéia de que o 13.0.0.0.0 tem algum significado especial?

As fontes são duas. A primeira é que segundo o mito de criação contido no Popol Vuh, o mundo atual é na verdade a quarta criação; a criação anterior acabou em seu dia 12.19.19.17.19, e foi seguida pelo dia zero da criação atual, que corresponderia ao 13.0.0.0.0 da criação anterior. Daí extrapola-se que os maias acreditavam que a criação atual também terminaria no 12.19.19.17.19, embora isso não esteja dito em lugar nenhum, e embora algumas das "predições" de verdades absolutas dos maias caiam após o 13.0.0.0.0.

A segunda fonte é o monumento 6 em Tortuguero, que contém a única inscrição conhecida sobre o 13.0.0.0.0 da era atual. O texto parece sugerir que em 13.0.0.0.0 um deus descerá, contrariando a norma das predições maias de verdades matemáticas. Ou pelo menos era isso que se achava: analogia com textos com uma estrutura gramatical similar parece indicar que o evento do qual o texto trata é referente ao presente: à época em que o monumento foi erigido.

Logo, não há qualquer evidência de que os maias acreditassem que o mundo viesse a acabar em 2012. Se quisermos fim do mundo, teremos que providenciar nós mesmos.

A conclusão disso tudo é que se a próxima release do Firefox não se chamar Firefox 13.0.0.0.0, eu vou ficar decepcionado.

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A Terra não era plana na Idade Média

2012-04-21 03:13 -0300. Tags: misc, em-portugues

The issue in the 1490s was not the shape of the Earth, but its size, and the position of the east coast of Asia, as Irving in fact points out. Historical estimates from Ptolemy onwards placed the coast of Asia about 180° east of the Canary Islands.[18] Columbus adopted an earlier (and rejected) distance of 225°, added 28° (based on Marco Polo's travels), and then placed Japan another 30° further east. Starting from Cape St. Vincent in Portugal, Columbus made Eurasia stretch 283° to the east, leaving the Atlantic as only 77° wide. Since he planned to leave from the Canaries (9° further west), his trip to Japan would only have to cover 68° of longitude.[19]

Columbus mistakenly used a much shorter length for a degree (he substituted the shorter 1480 m Italian "mile" for the longer 2177 m Arabic "mile"), making his degree (and the circumference of the Earth) about 75% of what it really was.[20] The combined effect of these mistakes was that Columbus estimated the distance to Japan to be only about 5,000 km (or only to the eastern edge of the Caribbean) while the true figure is about 20,000 km. The Spanish scholars may not have known the exact distance to the east coast of Asia, but they believed that it was significantly further than Columbus' projection; and this was the basis of the criticism in Spain and Portugal, whether academic or amongst mariners, of the proposed voyage.

The disputed point was not the shape of the Earth, nor the idea that going west would eventually lead to Japan and China, but the ability of European ships to sail that far across open seas. The small ships of the day (Columbus' three ships varied between 20.5 and 23.5 m – or 67 to 77 feet – in length and carried about 90 men) simply could not carry enough food and water to reach Japan. The ships barely reached the eastern Caribbean islands. Already the crews were mutinous, not because of some fear of "sailing off the edge", but because they were running out of food and water with no chance of any new supplies within sailing distance. They were on the edge of starvation.[21] What saved Columbus was the unknown existence of the Americas precisely at the point he thought he would reach Japan. His ability to resupply with food and water from the Caribbean islands allowed him to return safely to Europe. Otherwise his crews would have died, and the ships foundered. The academics were right. It was not possible for a 1492 ship to sail west across open oceans directly to Japan, because the mariners would die long before their arrival.

A fonte de todo o conhecimento

Today I learned.

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