Elmord's Magic Valley

Computers, languages, and computer languages. Às vezes em Português, sometimes in English.

Qué voy a ser, je ne sais plus

2013-01-11 04:03 -0200. Tags: life, rant, academia, em-portugues

(For your enlightening. Midnight rant follows.)

Tendo terminado hoje a "prova" de Tópicos X (embora ainda não a tenha enviado), termina para mim para todos os fins práticos o semestre de 2012/2. Tópicos Especiais em Computação X, a.k.a. Grandes Desafios da Computação, é uma cadeira de 2 créditos que visa apresentar diversas áreas de pesquisa em Ciência da Computação. A maior parte das aulas consiste de uma palestra dada por um professor sobre sua área de pesquisa, no que ela consiste e quais são os desafios atuais que ela tem para resolver, além de dar uma idéia de como funciona a pós-graduação. Em uma dessas aulas, um professor mencionou (com uma certa ênfase) que a pós-graduação "não é mais do mesmo", que a dinâmica das aulas é diferente, que os alunos têm um papel muito mais ativo do que na graduação.

A primeira reação que eu tive diante disso foi uma boa dose de descrença. Talvez alguns professores dêem boas aulas, e os alunos desempenhe um papel mais ativo e autônomo, mas desconfio seriamente que com muitos professores a coisa não seja bem assim.

By the way, quem falou em autônomo? Isso aí brotou da minha cabecinha não-categorial. Só porque os alunos são mais ativos, não quer dizer que eles tenham algum poder de decisão sobre o que aprendem. Disse ainda o camarada palestrante que como não há cadeiras obrigatórias no mestrado, o aluno pode escolher fazer cadeiras apenas nas áreas que lhe interessam. Porém, no caso das cadeiras eletivas da graduação, os fatos de (1) haver um número mínimo de créditos eletivos obrigatórios, (2) não haver cadeiras suficientes em determinados tópicos, e (3) diversas cadeiras existirem apenas "para inglês ver", não sendo oferecidas em nenhum semestre na prática, significam que no geral é inviável fazer todas as eletivas em assuntos de interesse, e não vejo por que isso seria diferente no mestrado.

O segundo pensamento que me ocorreu é, se o mestrado é toda essa maravilha, por que diabos a graduação não é? É para filtrar dos reles mortais os poucos que têm saco de aturar a graduação inteira e ainda têm ânimo de continuar na academia? É por falta de professores (assumindo que uma melhoria exigisse turmas menores, como são no mestrado, proposição da qual eu duvido)? Porque "sempre foi assim"? Porque no final das contas o objetivo da graduação é produzir um diploma que dá ao camarada o direito de ser empregado em lugares que pagam melhor, e não adquirir e construir conhecimento? Todas as alternativas acima?

É nessas horas que eu me pergunto se vale a pena seguir a vida acadêmica. Meu objetivo inicial, logo que eu entrei nesse curso, era me tornar professor e viver uma vida feliz e contente dando aula e fazendo pesquisa. O curso começou a ficar menos-que-excelente pelo terceiro semestre, e lá pelo sexto ou sétimo eu já estava de saco cheio o suficiente para ter vontade de largar a faculdade. Muita gente que eu conheço encheu o saco bem antes; o que me sustentou nesse tempo foi primariamente o fato de que eu me interesso realmente muito por Ciência da Computação, e leio sobre coisas que me interessam fora do curso, o que mantém meu "amor à arte" firme e forte, apesar do curso. Felizmente a parte mais maçante do curso já se foi, e agora só me restam 6 créditos eletivos por fazer (ou 8, se o professor de Tópicos X não gostar das minhas respostas, já que a prova não é lá muito objetiva*) e o TCC (que é trabalhoso, mas pelo menos eu arranjei um assunto que me interessa para fazer ele sobre (e que venha o monstro da gramática me devorar)).

Como se não bastassem os horrores da graduação para desmotivar o sujeito, eu vejo por aí coisas do tipo:

Basically everyone who gets tenure, including me, finds him/herself continuing to get busier every year. Not only do the demands on our time increase, but we can no longer fall back on the convenient selfish excuse “sorry—can’t possibly do that time consuming task while I’m on the tenure track.” The constantly overloaded TODO list gets old, and it also makes it hard to get actual research done. It’s no coincidence that a lot of tenured professors rely on students to do all of the technical work associated with their research programs. Untenured professors not only have more time to do research but also may be reluctant to risk their careers by putting students on too many critical paths.

Life After Tenure (ênfase minha)

Mais de uma vez eu já li ou ouvi relatos de que os encargos administrativos de um professor tomam tempo suficiente para atapalhar a "pesquisa de verdade". E aí reside um baita de um problema, porque se eu tiver que escolher entre ser professor e desenvolver software, eu prefiro desenvolver software. Na minha concepção inicial do universo, eu não teria que escolher, mas parece que minhas suposições podem estar erradas. Je ne sais plus.

* Appendix A: De como eu saí da Letras

(Não, isso não tem nada a ver com o resto do post.)

Para quem não sabe, antes de entrar para a Ciência da Computação (em 2009) eu cursei um semestre e meio de Letras. Os motivos para isso foram meu interesse por lingüística e a ausência de um curso específico de lingüística em uma faculdade próxima (a faculdade mais próxima com um curso de Lingüística é a Unicamp), o fato de que eu estava de saco cheio de computadores (primariamente porque eu tinha zilhões de problemas com computadores na época, primariamente porque eu tinha uma máquina extremamente capenga, mas também porque viviam me alugando para resolver problemas), e o fato de que eu estava de saco cheio de matemática (graças a um curso de iniciação científica oferecido pelo IMPA para os primeiros dez bilhões de colocados na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, o qual eu abandonei depois de três meses, embora eu estivesse sendo pago para participar). Quaisquer que tenham sido os motivos, eu tomei a decisão de fazer o curso de "Letras – Tradutor Português e Japonês" (porque foi a língua que me pareceu lingüisticamente mais interessante, e não porque eu gosto de animê e mangá, como aparentemente era o caso de todos os outros (cerca de oito) alunos).

Embora algumas cadeiras fossem insuportáveis (e.g., Leitura e Produção Textual), algumas cadeiras eram muito legais (Conceitos Básicos de Lingüística, Japonês I), e embora historicamente eu detestasse de coração o estudo de literatura que se faz no ensino fundamental/médio, até as cadeiras de literatura estavam interessantes.

Até que chegou a primeira prova de Literatura Brasileira A. Eu fiz a bendita prova e tirei um C. Nesse momento eu contemplei a prova, mirei as respostas, e me dei conta de que eu não fazia a menor idéia de por que eu tinha tirado um C, ou o que eu poderia ter respondido diferente para tirar uma nota melhor. Nesse momento eu me dei conta de que se eu não era capaz de determinar o que estava "errado" na prova, meu desempenho no resto do curso provavelmente seria a mesma coisa, já que responder "certo" parecia exigir uma habilidade mágica que não só eu não tinha, como sequer compreendia a natureza da mesma. Nesse momento eu tive um profundo insight: "Que diabos eu estou fazendo aqui?!"

(Fora que o conteúdo de lingüística do curso é um quase nada.)

E foi assim que eu não fiz a segunda prova de Literatura Brasileira A (embora tenha ido às aulas), terminei as outras cadeiras decentemente, no semestre seguinte peguei apenas quatro cadeiras (incluindo uma eletiva, nenhuma relacionada a literatura), larguei todas em setembro para me mudar temporariamente para a casa da minha mãe e estudar para o vestibular, e no ano seguinte entrei para a Ciência da Computação, onde, se muitas das cadeiras são terrivelmente maçantes, pelo menos os critérios de avaliação são largamente objetivos.

Post scriptum

O vídeo linkado diz "que voy a hacer" ao invés de "qué voy a ser". Nunca tinha me ocorrido essa interpretação (acentuação notwithstanding). Mas camarada Google diz:

E no entanto os primeiros sites retornados por uma pesquisa por manu chao me gustas tu lyrics favorecem o "que voy a hacer". E agora?

Comentários / Comments (9)

Marcus Aurelius, 2013-01-11 10:19:29 -0200 #

Bom, já escrevi em algum outro lugar uma historinha assim:

No 1.º grau me diziam: quando tu entrar no 2.º grau, a escola não vai ser tão fácil assim, tem que estudar muito e os professores não dão tudo mastigado! (isso quando não diziam o mesmo de uma série pra outra...)

No 2.º grau, me diziam: quando tu entrar na universidade, não vai ser tão fácil assim, tem que estudar muito e os professores não dão tudo mastigado!

Na universidade, me diziam: no mestrado não vai ser tão fácil assim, tem que estudar muito e os professores não dão tudo mastigado!

Só desta última vez era verdade, hahaha (pelo menos pra mim). Tá certo que também tem aulas normais com provas seguindo o “estilo tradicional”, mas depois foi só leitura e escrita de artigos, com muita programação para terminar o trabalho.

E também foi só aí que realmente enchi o saco e resolvi parar, sem ir para o doutorado. A minha graduação eu achei tranqüila até, a ponto de achar uma boa idéia continuar estudando. Fazer o mestrado também foi bom, mas chegou no meu limite, e eu queria deixar uma brecha entre o que eu conseguia fazer e o que me era exigido para não viver constantemente estressado, hehehee.


Marcus Aurelius, 2013-01-11 10:25:00 -0200 #

Aproveitando que tu é uma das poucas pessoas que poderia ajudar a satisfazer a minha curiosidade, nesta página aqui:

http://slovake.eu/eo/learning/intro/pronunciation

tu consegue entender como raios eles dizem que a sílaba tônica de “slovenský” é a primeira (slo) e eu ouço claramente que é “ven(s)”? Na mesma página tem “ahoj” e a sílaba tônica é a primeira, mas em outras eu escuto ahOj... Acho que o conceito de sílaba tônica que me explicaram nas aulas de português quando eu era criança, não se aplicam ao eslovaco... Já vi o mesmo problema em tcheco e húngaro: eles dizem que a sílaba tônica é sempre a primeira e isso não corresponde ao que eu ouço.

(não estou estudando essas línguas a fundo, é só uma curiosidade técnica sobre elas, hehe)


Vítor De Araújo, 2013-01-11 11:49:59 -0200 #

Wild guess: eu lembro de ter lido que em russo a sílaba tônica é mais _grave_ do que as outras, e isso confunde a percepção da sílaba tônica por estrangeiros. Não sei se é esse o caso em eslovaco (e pelas poucas amostras de áudio não consegui ter certeza do que está acontecendo)...

Muito legal os caras terem a página em esperanto, por sinal...


Mad girls, 2013-01-11 16:40:10 -0200 #

Agora a gente dança /o/


Cayo, 2013-01-11 22:39:51 -0200 #

Tu já pensou em discutir esses dilemas acadêmico-vocacionais direto com um professor (e.g. Weber)?


Vítor De Araújo, 2013-01-11 23:10:31 -0200 #

Já, mas eu tenho medinho de falar com gente, aí fico postergando indefinidamente. :P Mas até o fim da graduação eu resolvo isso...


Cayo, 2013-01-13 16:58:46 -0200 #

Não há de ser problema, o Weber também tem medo de falar com gente.

FORTE SUGESTÃO: A partir de hoje, até que tu consiga falar com o Weber sobre isso, sempre que tu estiver no Vale, se tu já não tiver ido na sala do Weber no dia atual, vá na sala do Weber. Se ele estiver lá, fale com ele sobre isso.))))))))))))))))))


Vítor De Araújo, 2013-01-14 00:10:50 -0200 #

É uma bella sugestão. oBRIGADO.


Marcus Aurelius, 2013-01-14 01:29:34 -0200 #

Hehe, valeu pela wild guess!
O site é dos mesmos criadores do Lernu. Eu deveria é procurar a página de contato ou um fórum, isso sim! :-P


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