Elmord's Magic Valley

Computers, languages, and computer languages. Às vezes em Português, sometimes in English.

Desexcelências da vida

2012-05-28 22:46 -0300. Tags: about, esperanto, life, mind, em-portugues

Normalmente eu posto no blog pensando que só quem vai ler são as cinco ou seis pessoas para quem eu contei que tenho um blog, e provavelmente nem todas elas. Eu esqueço que isso aqui é a teia de escala mundial, pública para toda a galáxia. Assim, fiquei bastante surpreso ontem ao encontrar uma pilha de comentários no meu post sobre as desexcelências do esperanto, continuação de um post anterior em que cito que o esperanto é uma língua bem-feita mas com alguns problemas, e em resposta a um comentário que me pediu para elaborar sobre o assunto. Sem o contexto do post original, o das desexcelências pode parecer crítica gratuita, e não me preocupei em dar muito contexto porque assumi que todo o mundo que fosse lê-lo teria lido o original.

Como de praxe, minha reação imediata à crítica foi sub-ótima: recebi críticas pessoais, e as respondi como críticas pessoais, embora a resposta certa esteja parcialmente contida no que eu disse. A resposta certa é que as "minhas" críticas não são minhas: o post se propõe a resumir as críticas mais comuns à língua, como dito no primeiro parágrafo, e ficaria surpreso se um esperantista de longa data nunca tivesse se deparado com as mesmas críticas antes. "Mas são críticas de iniciante", alguns me dizem. Sim, são, em especial a primeira e a segunda, mas o problema é justamente evitar que os iniciantes abandonem a língua diante dos problemas encontrados.

Provavelmente é ingênuo da minha parte achar que se a língua tivesse menos defeitos o coeficiente de adesão seria maior, como o James Piton mencionou. Mas acho que alguns dos defeitos atrapalham sim a divulgação; qualquer alvo de crítica a mais é um problema na hora de promover "uma língua que ninguém fala" como língua universal. ("Ninguém" é um bocado de gente, como alguns comentaram.) De qualquer forma, o esperanto é a melhor solução que temos no momento, e as vantagens de criar outra língua "mais perfeita" provavelmente não compensam a perda da base de falantes, da literatura e da fama o esperanto tem.

Alguns dos comentários foram menos amigáveis. Acho que todo o mundo tinha que ter uma cópia disso aqui emoldurada em uma parede próxima ao computador para olhar antes de postar alguma coisa. No final das contas acho que uma das coisas que mais me incomodou foram os comentários que sugeriram que eu não soubesse o que é o acusativo; eu tenho que atirar pela janela um pouco da minha arrogância (que eu tenho mais do que talvez aparente, e mais do que eu mesmo tenho consciência a maior parte do tempo). Por outro lado, fica o lembrete de tomar cuidado na hora de assumir coisas sobre as outras pessoas, e de negar crítica alegando ignorância de quem critica.

Finalmente, essa história toda serviu para me lembrar que isso aqui é público, e que eu tenho que tomar mais cuidado com o que eu posto.

Comentários / Comments (7)

Adonis Saliba, 2012-05-31 17:45:04 -0300 #

Veja bem, Vitor, o que você coloca público, como ideia, é para ser rebatido e discutido. Você não pode adquirir uma postura de vítima incompreendida em relação à ideias que pretendeu rebater como discussão de gente adulta sobre o Esperanto. Portanto, vou tratá-lo nessa condição e minha posição é de defender a ideia da língua internacional que falo há mais de 46 anos. Nessa postura, apenas lhe digo, sobre o Esperanto, não se discute mais se foi um projeto de língua ou não. O fato é que o Esperanto é uma língua viva hoje em dia e assim deve ser tratado. Isso é, não cabem mais potenciais reformas ou reestruturação como mostrado em suas argumentações.

Nosso desejo é que a população mundial o aceite de uma forma generalizada. Acho que isso apenas é uma questão de tempo e não necessariamente em nosso tempo de vida, para viver um ideário minimalista. A noção política de democracia no mundo ainda é acanhada para poder conter o Esperanto. Deve-se, portanto, discuti-lo não na sua morfologia superficial, mas no seu processo mundial de disseminação, pela informação e difusão do Esperanto. Tudo que foi discutido até o presente momento por você se insere em aspectos lúdicos de se discutirem aparências subjetivas de idiomas.

Similarmente, seria discutir os sons consonantais mudos do inglês ou uma regularização da conjugação do verbo "ser" no português. Que tal conjugarmos o verbo ser de forma regular (como aprender): Eu so, tu ses, ele se, nos semos, vos sedeis, eles sedem). Você aceitaria uma barbárie dessa em relação aos idiomas étnicos, como português? Em sã consciencia, você não aceitaria isso. Por que comentar sobre a potencial remontagem do Esperanto. Só por causa da sua origem. Essa origem só gerou a língua regular baseada em um fundamento que temos hoje. Esperanto já é língua como qualquer outra, ao aprendê-lo vai sentir isso. Portanto, a única coisa que se tem a fazer em relação ao Esperanto é considerá-lo como ele é se discutir apenas a sociologia política de sua introdução e difusão, porque ai o campo está aberto.

Adonis


Vítor De Araújo, 2012-05-31 19:23:15 -0300 #

1. Não proponho reformas, afirmo fatos. "Muitas vezes já se propôs X", "Muita gente acha Y", "Já vi mencionarem que Z", etc. Daqui a pouco vão querer apagar o artigo da Wikipédia sobre "Criticism of Esperanto". Fatos são fatos. Não falei nenhuma novidade, e meu objetivo não é reformar nada. Como já disse, acho que não vale a pena o esforço.

2. Não estou me fazendo de vítima. Acontece que eu recebi um quilo de críticas por expôr fatos. Mais que isso: recebi um quilo de críticas de gente que sequer se deu ao trabalho de entender o contexto do artigo. Parece que nem todo o mundo ainda entendeu.

3. Se o esperanto fosse "uma língua como qualquer outra", então seria tão útil quanto qualquer outra como língua internacional. Não é o caso. De qualquer forma, não estou propondo reforma nenhuma, só apresentando o que já disseram antes.

By the way, línguas naturais ocasionalmente são reformadas:
http://en.wikipedia.org/wiki/Norwegian_language_struggle

No más.


Vítor De Araújo, 2012-05-31 19:45:12 -0300 #

[P.S.: Minha análise orientada a facão do log de acessos indica que o senhor não leu o post original nem agora, nem da primeira vez, nem em nenhum momento intermediário, mas eu posso estar enganado.]


John Gamboa, 2012-10-13 23:32:59 -0300 #

Nossa! Nossa! Sério... que tri!

(Ok ok... me apresentando eu sou o John Gamboa... eu fui colega na escola do Gabriel Veras, sou CiC e cheguei a esse blog através de uma conversa que estava tendo com o Fialho quando ele foi comigo pra Amsterdã agora mês passado. Eu falei que gosto de linguística -- e, bem, eu passo bons tempos lendo sobre o assunto na wikipedia -- e ele me disse que era pra eu procurar pelo teu blog, onde houvera uma discussão sobre esperanto um tempo atrás)

Eu não falo esperanto (o que não significa que num futuro aceitavelmente distante eu não deva começar a tentar aprender). Eu li as três postagens. Sério... MUITO bom! \o/ Eu adoro ler sobre lingüística e assuntos relacionados a línguas... devo começar a acompanhar esse blog \o/

(enfim... meu comentário foi só pra parabenizar e dizer: tu ganhou um novo leitor u.u)


Vítor De Araújo, 2012-10-14 01:01:56 -0300 #

Wow, obrigado! Estou dando uma olhada no teu blog, e acho que posso dizer o mesmo... :)


John Gamboa, 2012-10-14 11:30:12 -0300 #

Eu não tenho muito conhecimento (meu conhecimento é quase todo vindo da Wikipedia), mas gosto muito do assunto. Isso se reflete nas coisas que escrevo: dá pra ver que nem sempre sei exatamente do que eu to falando =)


Vítor De Araújo, 2012-10-14 20:45:57 -0300 #

Sob risco de decepcionar o senhor, estou no mesmo barco... :P


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