Elmord's Magic Valley

Computers, languages, and computer languages. Às vezes em Português, sometimes in English.

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State of the life

2014-10-17 01:37 -0300. Tags: life, mind, academia, mestrado, home, em-portugues

As pessoas gostam de dizer que o tempo passa rápido. Eu nunca concordei com essa afirmação; para mim, um ano sempre levou um ano inteiro para passar. Mas esse ano em particular está se puxando em termos de neverendingness. Para futuras consultas, e para quem tiver interesse, deixo aqui um registro simplificado dos fatos.

Em janeiro deste ano, meu pai se mudou para um apartamento em Porto Alegre, e eu, que até então morava em uma casa alugada de solidez questionável, me mudei para a recém desocupada casa. Após uma série de acidentes vivenciosos, cuja enarração está fora do escopo deste livro, encontrei-me por volta de julho dividindo a casa com meu pai e minha irmã, compartilhando com esta última um quarto de 2×2,5m, e tendo que cuidar da mesma no período da tarde. Uma vez que essa obrigação conflitava com a necessidade de comparecer à UFRGS para a bolsa do mestrado e a essas alturas eu já estava perdendo as estribeiras, em uma última tentativa de salvar um pouco da minha sanidade mental, falei com meus orientadores sobre a possibilidade de trancar a matrícula. No fim das contas, ficou combinado que eu poderia continuar realizando as atividades do mestrado remotamente (já terminei todos os créditos necessários (que a partir deste ano são 12, e não 24), e agora só me restam o Trabalho Individual e a dissertação e atividades relacionadas), eu fiquei mui faceiro, e ficou por isso mesmo.

Evidentemente, isso não foi nada produtivo, dada a falta de sossego e de coisas como uma mesa decente e isolamento e o fato de eu passar constantemente estressado ou cansado ou deprimido. Nesse meio tempo eu descobri que é possível comprar casas super-barato nas verdejantes terras de Viamãoheimr se o camarada não se preocupar com trivialidades como escritura e terreno em área verde, e comecei a catar locais para me mudar para no ano que vem. Depois de umas três ou quatro visitas a locais de solidez ainda mais questionável do que a anteriormente citada casa e em localizações pra lá de interessantes, eu larguei de mão essa idéia e decidi esperar até o fim do ano (quando eu me livro da obrigação de cuidar da criança) para alugar uma casa e me mudar.

No dia 15 de setembro, quando eu estava considerando trancar a matrícula pela (n+1)-ésima vez, eu me dei conta de que se eu alugasse uma casa suficientemente perto eu não precisaria esperar até o fim do ano para me mudar; eu podia me mudar agora e só ir para a outra casa à tarde. Até então eu estava tão fixado na idéia de comprar uma casa que isso nem me passou pela cabeça. Catei casa para alugar nas redondezas e encontrei uma elegante peça de 3×5m mais um banheiro para alugar por meia pataca. A saga para conseguir alugar esse bendito imóvel é uma história à parte que eu hei de postar em algum momento para a elucidação de todos os seres sencientes. Suffice it to say que sexta-feira da semana passada eu consegui me mudar para o lugar, e que turns out que 15m² são um tamanho bem razoável se bem utilizado e quando não se tem que dividi-lo com ninguém.

A situação está um pouco melhor desde que eu me mudei para cá. Por outro lado, até o fim do ano eu continuo tendo que brincar de babá às tardes e em outros momentos de interesse, entre outros eventos que me levam a questionar se o conceito de respeito pelo tempo dos outros existe na cabeça da população em geral ou se é alguma flutuação da minha imaginação, mas eu vou levando, pois é só até o fim do ano, e depois disso eu espero me sentir mais confortável em dizer não diante de proposições equiparáveis.

Quanto ao mestrado, by now I'm pretty sure de que eu não quero seguir a carreira acadêmica e viver de publicar papers. Aparentemente é possível ganhar uns bons trocos dando aula em instituições privadas de ensino superior sem ter que fazer pesquisa, e por enquanto este é o meu plano para depois que eu terminar o mestrado. (Para a minha definição de "uns bons trocos", pelo menos. Certamente não tanto quanto um professor titular de universidade federal, mas a carga horária é menor também. Eu não tenho a necessidade de ganhar rios de dinheiro e, contanto que eu ganhe o suficiente para levar uma vida decente e guardar uns trocados, eu prefiro ter mais tempo do que mais dinheiro. Eu me sinto um pouco desconfortável dizendo isso para as pessoas, porque é basicamente uma admissão de vadiagem, mas should it matter, se eu estiver me mantendo com meu próprio dinheiro sem pedir nada para ninguém? Enfim.) Eu tenho tido dificuldade em me motivar a fazer as atividades do mestrado, mas eu tenho levado, e o prognóstico de terminar isso tudo e deixar para trás é bastante animador.

By the way, lembram quando eu manifestei minha descrença pela idéia de que as aulas do mestrado "não são mais do mesmo"? Hell was I right. As predicted, as aulas são much the same thing (pelo menos as que eu tive). A melhor cadeira que eu fiz no semestre foi Programação Funcional Avançada, que nem era do mestrado (foi a cadeira que eu escolhi para realizar a Atividade Didática). Algoritmos e Teoria da Computação foi bacaninha também (em particular a parte de Teoria da Computação), mas nada muito diferente de uma cadeira da graduação. De resto, o semestre foi tolerável primariamente graças aos pães do Hélio. Also as predicted, a variedade de cadeiras (ou falta de) também limita as possibilidades de pegar apenas cadeiras em tópicos de interesse; aliás, os horários das cadeiras do mestrado são um tanto quanto mal-distribuídos (não há praticamente nenhuma cadeira às 8h30, por exemplo), o que aumenta a possibilidade de conflitos de horários entre cadeiras (semestre passado eu tive que escolher entre uma cadeira de programação paralela e uma de tendências em engenharia de software por conta do conflito de horários, por exemplo); soma-se a esse problema o fato de que a maioria das cadeiras é oferecida em apenas um dos semestres do ano, e que recomenda-se fortemente aos alunos cursarem todas as disciplinas no primeiro ano do mestrado. On the bright side, esse ano o PPGC resolveu reduzir o número de créditos obrigatórios do mestrado para 12, o que permite realizá-los todos no primeiro semestre.

Also on the bright side, eu consegui (depois de muitas conturbações, primariamente na minha cabeça) escolher um tema de dissertação em um assunto que me interessa. Vai dar um baita trabalho para implementar, mas pelo menos eu vou aprender coisas pessoalmente úteis para mim no processo.

Do futuro, falamos depois.

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Título de capitalização como garantia de aluguel?

2014-09-18 21:33 -0300. Tags: life, home, worldly, treta, em-portugues

Meus amigos, falcatrua é uma arte.

Ao invés de exigir fiador, algumas imobiliárias permitem o uso de um título de capitalização como garantia de aluguel. A idéia é: você compra à vista um titulo de capitalização em um valor pré-combinado (normalmente cerca de 12 vezes o valor do aluguel), que fica servindo como garantia caso você não pague o aluguel (sim, você continua tendo que pagar o aluguel todo mês, mesmo já tendo pago o valor de um ano inteiro no título). No final de 12 meses, você pode resgatar "100% da reserva de capitalização corrigida mensalmente pela poupança mais TR" (fonte: folheto do PortoCap Aluguel; outras seguradoras/bancos oferecem condições análogas), e ainda concorre a prêmios e descontos em serviços residenciais.

Parece (meio que) uma boa, não? Afinal o rendimento é o mesmo da poupança, então dá na mesma deixar o dinheiro parado na poupança ou em um título. O truque está na expressão "100% da reserva de capitalização". Se você for parar para ler as condições gerais do PortoCap Aluguel, descobrirá que a reserva de capitalização é 94,1910% do valor do título; o restante é tomado como custos de sorteio (0,023354%) e despesas administrativas (5,785646%). A taxa de juros de capitalização é de 0,5% (basicamente a mesma da poupança). Assim, o rendimento do dinheiro que você recebe ao final dos 12 meses é:

That's right, as taxas de administração e sorteio são calculadas precisamente para que no final o dinheiro não renda absolutamente nada; você recebe a mesma coisa que depositou. Ou seja, se enquanto com R$ 6000 na poupança eu teria cerca de R$ 6370,06 um ano depois, com o título eu teria os mesmos R$ 6000. Se você resgatar o valor do título antes de um ano, você ainda perde dinheiro.

No site linkado pode-se ver que, além do título de 12 meses, existe um de 15. "Ah, esse rende mais", certo? Errado: a reserva de capitalização do de 15 meses é 92,7919% do valor do título, o que dá um rendimento de 0,927919 · 1,00515 = 1,0000022, i.e., 0,00% também.

Conclusão: pelo menos você "não está" perdendo dinheiro, mas a propaganda de que o título dá os mesmos rendimentos da poupança é misleading (o folheto não explica o que é nem quanto é a reserva de capitalização; o carinha da imobiliária ainda teve a cara de me dizer que o título "é muito melhor que a poupança"). "Não está" entre aspas, porque no tempo em que esse dinheiro ficou parado ele poderia ter rendido juros se fosse aplicado na poupança ou algum outro tipo de investimento. Seria mais honesto simplesmente dizer que o dinheiro é devolvido no final com correção pela TR, sem dizer que é corrigido pela poupança, ao invés de oferecer correção pela poupança e tirar exatamente a mesma quantia em taxas. (Dou-me conta agora, todavia, de que isso provavelmente é parte do mecanismo que faz você sair com menos dinheiro se tirar o dinheiro antes de um ano, i.e., quando o dinheiro ainda não "rendeu" até voltar à quantia original.)

That's #capitalfinanceiro for you.

(By the way, eu mencionei que se você conseguir tirar algum lucro nessa brincadeira (i.e., o pouquinho que a TR rende), há incidência de imposto de renda sobre ele, enquanto a poupança é isenta de imposto de renda até R$ 50 000?)

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A madman and a scholar

2014-07-06 20:41 -0300. Tags: life, mind, academia, mestrado, ramble, em-portugues

Recentemente, conversando com algumas pessoas sobre o mestrado, eu disse, with varying wording, que eu ando meio pirado. Não era figura de linguagem: I meant every word of it. Se eu ainda não perdi totalmente as estribeiras, eu provavelmente devo isso primariamente à Julie Fowlis; eu ainda sou capaz de pôr ela (e a Mari Boine) nos agradecimentos da dissertação.

Semana passada eu tive uma prova, na qual eu sabia não ter ido muito bem. Quinta-feira à noite as notas foram divulgadas por e-mail, e a professora (doravante Professora I) informou que as provas ficariam na secretaria da pós-graduação para quem quisesse pegar, e que só estaria de volta à universidade na segunda. A minha nota estava tão vergonhosa que eu não estava nem a fim de ir pegar a prova. Na sexta, a outra professora da disciplina (doravante Professora II) divulgou os conceitos da disciplina; eu estava de recuperação. Apesar de estar chateado e todo perturbado das idéias, eu resolvi ir pegar a prova na secretaria e dar uma olhada, just to make sure. Turns out que a Professora I somou errado as notas das questões e me deu 2.5 ao invés de 25 em uma questão que valia 25. Se a nota tivesse sido calculada corretamente, eu não teria ficado de recuperação.

Mandei um e-mail para a Professora I sexta ao meio-dia, com um scan da prova. Não recebi resposta até o momento.

Nos últimos dois dias, eu tive três sonhos. (Isso dá uma idéia de quão regulares andam meus padrões de sono ultimamente.) No primeiro, eu estava discutindo loucamente com a Professora I tentando convencê-la sem sucesso de que a nota tinha sido calculada errada. No segundo, eu estava discutindo louca e veementemente com outro professor que queria me rodar por FF a qualquer custo por eu ter faltado a um dia de apresentações. O terceiro foi uma variação de um sonho recorrente, embora infreqüente, em que eu descubro no final do curso que eu não assisti a nenhuma aula da cadeira de Álgebra Linear (da graduação) ou alguma outra coisa math-related e vou ter que refazer a cadeira. Dessa vez o sonho foi mais elaborado e eu tinha mais alguma coisa para fazer depois de apresentar o TCC, mas a essas alturas eu já não lembro mais dos detalhes concretos.

Eu estou meio que urgentemente precisando de umas férias, que eu não terei porque (1) um certo professor, por conta das aulas perdidas por conta da copa (o semestre já não tinha começado mais cedo para compensar isso?), viagens no meio do semestre, aulas canceladas por motivos pessoais e ausência generalizada de cronograma, vai dar aula até além do fim do semestre (pode isso? claro que não; faz diferença? claro que não); (2) bolsista não tem férias. Segundo o pessimamente mal-escrito regulamento do PPGC, o bolsista tem direito a um mês de férias (por ano? na vida? assumindo um mês por ano, dá para emendar o mês de férias de 2014 e o de 2015? por que escrever direito se podemos deixar ambíguo e interpretar como quisermos depois?), mas elas têm que ser combinadas com antecedência com o orientador, e o caso é difícil de defender, porque eu nem fiz grande coisa como bolsista so far. Em qualquer caso, não vale a pena pedir férias agora por conta da cadeira mencionada.

Faz algum tempo que me admira o fato de que essencialmente o mesmo cérebro que servia ao cidadão cavernícola de vinte mil anos atrás também é capaz de absorver e ser bombardeado por quilos e quilos de informação com variáveis graus de abstração numa proporção supostamente muito maior hoje em dia do que então. Hoje isso me levou a duas reflexões: (1) De um lado, uma apreciação do fato de que a vida intelectual do cidadão cavernícola talvez não fosse tão simples assim; aliás, deixo-vos a conjectura (sem qualquer argumento, qualificação ou conhecimento para fazê-la) de que viver naquela época era tão difícil que, tendo-nos livrado de parte dessa complexidade graças a avanços tecnológicos (agricultura e etc.), quilos de poder de processamento foram liberados para as atividades intelectuais mais "elevadas" que realizamos hoje. (2) De outro lado, óbvio que isso ia dar merda, e é por isso que tem tanta gente pirada pelo mundo.

Por que eu estou falando disso? Porque nos últimos tempos eu ando meio overwhelmed com idéias e coisas que seriam interessantes de desenvolver e coisas que eu gostaria de ler e coisas que eu não gostaria tanto assim de ler mas que eu preciso ler para o mestrado e trabalhos para fazer, e eu estou em um ponto em que eu já não foco direito em coisa nenhuma; uma hora estou lendo um paper sobre dependent types, aí não termino de ler e estou lendo fragmentos arbitrários da documentação do Chicken Scheme, aí depois estou lendo sobre phase separation em Lisps, e aí estou escrevendo um leitor de S-expressions em C. (Isso foi um resumo do meu dia de ontem-anteontem (dado meus anteriormente mencionados padrões de sono, eu já não sei quando começou um dia e terminou outro).) Eu quero criar uma linguagem de programação e uma conlang e um sistema de escrita e uma máquina virtual e pensar sobre o problema da minha dissertação e eu não consigo me concentrar em nenhuma dessas coisas por qualquer quantidade decente de tempo nem parar de pensar nelas. Talvez eu estivesse precisando ficar uns dias sem olhar para um computador ou para quaisquer coisas acadêmicas e curtir a vida de outras formas. Não me ocorre nenhuma possibilidade de outras formas, entretanto, e eu me pergunto se eu estou fazendo alguma coisa muito errada com a minha vida. Adicione-se a isso uma prova para a qual enquanto eu estudava e lia os exercícios e as respostas no livro eu me perguntava: "Como é que eu ia pensar nisso? Será que eu sou incompetente? E tu ainda pretende fazer o doutorado?" Adicione-se a isso mil outros problemas que estão fora do escopo do discutível neste blog.

Querida Professora I: Responda o bendito e-mail. Boa noite.

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Muito bom, Hélio

2014-03-27 17:31 -0300. Tags: random, img, life, em-portugues

[A very disruptive idea]

Isto, meus caros, me foi apresentado como uma máquina de converter petróleo em pão. Durante uma aula. Depois de uma noite de três horas de sono. It was a very disruptive idea.

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Raciocínio categorial

2013-08-04 00:33 -0300. Tags: life, random, em-portugues

Certa vez, quando eu tinha uns sete anos de idade, estava na casa de um tio. Minha prima (que se minhas contas não falharam, tinha uns nove anos) estava tendo dificuldades com um tema de casa que provavelmente envolvia conjugações verbais. Meu tio diz:

"Mas isso aí até o Vítor sabe. Vítor, qual é a primeira pessoa?"

Eu não fazia a menor idéia do que ele estava falando. Ponderei sobre aquela questão profundamente filosófica de quem diabos era a primeira pessoa por uns três ou quatro segundos e respondi:

"Eu?"

Até hoje eu me admiro daquela resposta.

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Die, monster

2013-07-27 03:33 -0300. Tags: life, mind, em-portugues

You don't belong in this world.

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Estatuto do Nascituro

2013-06-12 07:22 -0300. Tags: life, politics, em-portugues

A essas alturas você já deve ter ouvido falar do Estatuto do Nascituro, um projeto de lei que, entre outras coisas, ilegaliza o aborto em caso de estupro (atualmente permitido por lei), e prevê o pagamento de uma bolsa (de um salário mínimo) à vítima caso o pai da criança não seja identificado.

Que como se não bastasse ter sido estuprada, a vítima ainda vai ter que carregar por nove meses o fruto do estupro, uma criança que ela não pretendia ter e não teve nenhuma escolha em ter, problema é dela. Que o fato de que ter um filho pode alterar completamente a vida dela, também pouco importa. Afinal, a única função da mulher é reproduzir mesmo. Além disso, ela receberá auxílio financeiro do estado (de um salário mínimo, evidentemente mais do que suficiente), e cuidar de uma criança é só uma questão de dinheiro, não é mesmo?

Não, pouco importa a vítima. O importante nessa história toda é a criança. A criança que terá uma vida ótima, com um pai estuprador e uma mãe que não a queria e que sempre vai associá-la ao estupro. Certamente a criança será beneficiada em nascer em tal ambiente familiar bem estruturado, acolhedor e preparado para recebê-la. E na dúbia ocasião em que não seja esse o caso, a criança sempre poderá ir para a adoção, viver em um igualmente bem estruturado e acolhedor orfanato por tantos anos quanto necessário, até, talvez, ser adotada por uma família que, talvez, lhe oferecerá boas condições de vida. Mas isso é um caso especial; no geral, a mãe biológica, que é a verdadeira responsável pela criança, é que ficará com a criança. Afinal, quem mandou ser estuprada?

Diga NÃO ao Estatuto do Nascituro.

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Tempus fugit, mas só se eu deixar

2013-05-21 04:53 -0300. Tags: life, em-portugues

Quanto menos obrigações eu tenho, mais aparente se torna o fato de que eu não sei usar meu tempo.

Historicamente eu não sou uma pessoa muito "responsável". Ok, eu sou responsável no sentido de que eu sempre (será?) cumpri os "contratos": sempre terminei os trabalhos de aula e as tarefas de bolsa em tempo hábil e me saí decentemente bem nas cadeiras. Na bolsa de IC inclusive a galera admirava meu trabalho. Mas eu nunca fui muito dedicado; o que eu quase sempre fiz foi postergar tudo até o último momento e usar meu færsom cung-fu para terminar as coisas a tempo. E como isso deu sempre certo, eu nunca mudei esse comportamento (fora ter aprendido a começar algumas tarefas uma semana antes do prazo, ao invés de um dia).

O problema é que isso não funciona quando não existem deadlines impostas por outros para fazer as coisas. Por exemplo, tem um bocado de línguas que eu gostaria de aprender, e um bocado de programas que eu gostaria de escrever. Em tempos de outrora eu poderia até argumentar (falsamente, for most part) que a faculdade/bolsa não me deixava tempo para me dedicar a essas coisas. Mas agora que eu estou chegando no fim do curso e tenho rios de tempo livre que eu posso usar como bem entender, torna-se evidente o fato de que eu jogo quilos de tempo fora. Diante dessa observação, estou procurando meios de fazer com que eu use melhor esse tempo.

De repente eu tive um insight sobre para que servem horários: eles servem para que as pessoas façam o que de outra forma elas postergariam indefinidamente.

O problema é que ter horários fixos para as atividades e pré-programar todas as ações é um negócio tão avesso à minha natureza que (1) eu não seria uma pessoa contente fazendo isso; (2) provavelmente não ia funcionar, i.e., eu ia atirar pela janela essa organização toda em meia dúzia de instantes; (3) eu sequer sei como proceder com essa organização. Por exemplo: os dias em que eu tenho que ir no mercado ou arrumar a casa são variáveis. Como é que eu vou planejar de antemão em que momento eu vou fazer essas coisas? You surely don't expect que eu tenha um planejamento melhor das minhas compras do que "essa é a última caixa de leite, amanhã tem que comprar mais", right? E eu só escrevo posts quando estou inspirado, e não levo sempre o mesmo tempo para escrever um post, então não tenho como apontar um período de tempo pré-fixado para isso. And so on.

Felizmente, acho que eu descobri uma maneira de programar melhor meu uso do tempo sem tornar isso um fardo. Eis a técnica:

E é isso. Aqui estou eu dando conselhos sobre administração de tempo sem nenhuma propriedade para tal. Para pessoas diferentes coisas diferentes funcionam melhor, e talvez isto aqui não seja a técnica ideal para você, mas até agora essa foi a idéia de organização de tempo que me parece mais promissora de funcionar para mim. Cumprir os tempos previstos ainda exige um bocado de força de vontade, mas me parece menos burdensome do que programar horários fixos para as coisas. Não que isso seja uma idéia revolucionária, mas enfim. Espero que funcione.

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#123

2013-05-02 23:20 -0300. Tags: random, life, mind, ramble, em-portugues

Caro mundo,

Ao invés de estar aproveitando meu tempo de uma maneira produtiva, resolvi passar o final do meu dia lendo o Hyperbole and a Half desde o primeiro post. Por mais improdutivo que seja, não posso dizer que foi uma má decisão. Além disso, ler certas coisas me fez pensar que morar nessa casa com o chão todo torto e que está começando a ficar úmido com a proximidade do inverno e que em breve vai começar a verter água, ao mesmo tempo em que caracóis começam a invadir a casa, até que não é algo tão ruim assim. O tempo está com cara de tempestade iminente, o que significa que meu 3G vai começar a se arrastar como os recém-mencionados caracóis, o que pode dificultar minha continuada leitura do recém-mencionado blog, mas enfim. (A concretização da tempestade, por sua vez, pode levar à falta de luz na rua em que se localiza a recém-mencionada residência pela qual eu acabo de expressar renovado apreço, rua esta com uma infraestrutura elétrica menos que invejável. Mas enfim. O tempo está bonito, pelo menos.)

(As a sidenote, se por acaso alguém estiver preocupado com o sumiço da Allie no final de 2011, saiba que ela deu sinais de vida no Reddit em março de 2012. Eu fiquei contente quando encontrei isso, anyway. [Update: She's back! Good timing, huh?])

(Como se diz "sidenote" em português? "Preterlóquio?" (Estou surpreso pela total ausência de resultados na minha busca no Google por "preterlóquio". Considerem a palavra criada (ainda que, talvez, não necessariamente com o mesmo exato sentido).))

Mas não é sobre nada disso que eu vim falar hoje. O que eu vim falar aqui originalmente é sobre o design de shells. Lembram que eu escrevi um post quatro meses atrás dizendo que estava querendo escrever um shell? Pois bem, obviamente eu não fiz isso, mas nesse meio tempo eu tive idéias. (Se me pagassem para ter idéias de software de aplicabilidade questionável eu estaria com a vida ganha. Ou não.) Na verdade eu agora fui olhar o respectivo post e descobri que ele é muito maior do que eu me lembrava, de tal maneira que eu já nem sei se vale a pena escrever outro post sobre o assunto. Quem sabe assim eu resolvo criar vergonha na cara e de fato implementar as idéias, ao invés de ficar discutindo o quão fantasticamente legais elas são. Na verdade meu objetivo original era pedir sugestões, então talvez até houvesse um ponto em escrever o post, mas não sei mais. Se alguém quiser dar sugestões anyway, sinta-se à vontade.

Ao invés disso, eu vou falar de outra coisa: vou falar do fato de que os seres humanos se acostumam com as coisas e com o tempo passam a perceber qualquer situação em que se encontrem como algo dado e corriqueiro. Não, isso não é novidade nenhuma; você já se acostumou com essa idéia também. Mas às vezes o módulo de assumptions da minha cabeça tem um lapso de funcionamento e eu tenho um choque de realidade. Por exemplo, estava eu hoje à tarde debruçado sobre a mesa da sala da monitoria tentando dormir (já que normalmente não aparece ninguém lá para pedir ajuda e é difícil fazer qualquer coisa produtiva por lá, pois é difícil se concentrar com o barulho (mas não dormir, you see (embora eu não tenha conseguido dormir de fato (so far este blog contém 1083 pares de parênteses, por sinal, sem contar trechos de código entre tags PRE, mas isso não vem ao caso no momento)))). Sem sucesso em minha tentativa de dormir, levanto e resolvo sair para ir ao banheiro (leia-se: pretexto para caminhar um pouco). Em um estado semi-acordado, começo a andar pelo corredor para a rua. Nesse momento eu olho ao redor e penso: "WTF? I'm in the fucking Instituto de Informática? Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul? Que viagem!" Não só estou no fucking Instituto de Informática, como também no final do curso. Especificamente, o curso termina em dois meses se eu me pilhar de terminar o TCC neste semestre (estrategicamente, entretanto, isso não tem vantagem nenhuma; é um semestre de RU a menos). How mad is that? E ainda por cima eu estou morando sozinho? Eu tenho uma casa só pra mim? Sou eu que pago as contas? Eu posso fazer whatever the hell I please da minha vida? Por que diabos ninguém tinha me contado isso antes?

E é isso, galera. A moral é que às vezes a gente precisa de uns tapas na cabeça para ela ir para o lugar certo. (Não digo "voltar para o lugar certo" porque às vezes ela nunca esteve no lugar certo.) Agora, se vocês me permitem, eu vou continuar lendo Hyperbole and a Half até dormir em cima do teclado, já que eu descobri há meia hora atrás que não vou ter aula amanhã.

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To tweet or not to tweet

2013-04-07 22:41 -0300. Tags: life, comp, web, privacy, em-portugues

Dracula: "I'm all screwed"

Richter: "I am the instrument of your doom"

Dracula: "Perhaps not... not yet"

Richter: "What!?!?!"

???: "Richter! You killed my father! Prepare to die!"

Richter: "ALUCARD!!!"

Alucard: "You can't know... you'll never know how it feels..."

* TUM *

Richter: "NOOOOOOOO!"

– Castlevania, Hélio's edition

Há pouco mais de um ano eu abandonei o Twitter (well, not quite; eu só parei de postar lá, na verdade) por conta de eles terem vendido o acesso à base de tweets para umas empresinhas de mineração de dados. Há pelo menos metade desse tempo eu venho remoendo essa decisão.

Assumptions

Na época eu usava o Twitter com "tweets protegidos", i.e., apenas as pessoas que eu autorizei que me seguissem podiam ver os meus tweets. Eu assumia assim que apenas uns poucos conhecidos veriam o que eu estava postando.

Não é bem assim que a coisa funciona. Embora tweets protegidos não sejam retweetáveis, nada impede alguém capaz de ler um tweet de copiá-lo e retweetá-lo na mão. Retweets são uma feature fundamental do Twitter; não faz muito sentido contar com que algo postado no Twitter não vá ser retweetado. Proteger os tweets não melhora muito a situação.

Abandonemos, pois, a noção de que existe "publicidade seletiva" no Twitter: assumamos que "o que você diz no Twitter pode ser visto no mundo inteiro instantaneamente" (palavras dos termos de serviço, as it happens). E por "o mundo inteiro", leia-se o mundo inteiro. Na época da matrícula da UFRGS nesse ano eu vi alguns retweets da @ufrgsnoticias que provavelmente não estavam nos planos dos indivíduos retweetados e que eu fiquei cogitando comigo mesmo se não poderiam causar algum problema para os mesmos. Essa "falta de privacidade" é, me parece, uma propriedade fundamental do serviço Twitter, não um erro da companhia Twitter que o fornece. Assim (me parece), não faz sentido condenar o Twitter por esse tipo particular de falta de privacidade, mas tão-somente aprová-la ou não (e utilizar ou não o serviço de acordo).

(Essa falta de privacidade na verdade é uma propriedade compartilhada com blogs e páginas pessoais. No Twitter isso é um pouco mais acentuado pela facilidade de retweetar posts alheios, mas não é fantasticamente diferente. Essa "publicidade fundamental" é diferente do vazamento de informações pessoais para terceiros que não é fundamental para o serviço e não é do interesse do usuário. Mais sobre isso adiante.)

Ok, tweets são públicos. "Tweet privado" é praticamente uma contradição em termos. Aceitemos esse fato e tomemos por princípio que o Twitter só serve para postar coisas que não nos importamos de compartilhar com o mundo (e.g., links para coisas interessantes, recomendações de filmes/livros, etc.). Entendido isto, podemos seguir usando o Twitter com a consciência limpa.

Heh, não

Faltam dois problemas a considerar. O primeiro é o uso que se faz dessa informação além da mera publicação mundial. Isso inclui a venda ao acesso da base de tweets para as empresinhas de data mining, que foi a causa original do meu desgosto pelo Twitter.

Na verdade, o Twitter sempre vendeu o acesso a tweets, mesmo antes desse incidente; a diferença é apenas que o Twitter costumava limitar o acesso aos tweets dos últimos trinta dias. (O fato de que eles já brincavam de vender tweets antes não torna o ato de vender o acesso à base inteira nem mais nem menos ético, mas vamos adiante.)

O segundo problema são as outras informações que caem nas mãos do Twitter além dos tweets, e que uso o Twitter faz delas. Vamos por partes.

A miserable little pile of non-secrets

Pois, o Twitter vende, e sempre vendeu, o acesso a (porções da) base de tweets. Esses tweets são públicos para início de conversa*. A diferença entre baixá-los você mesmo e comprar o acesso é que as APIs do Twitter impõem certos limites na busca de tweets (e.g., aparentemente existe um limite de 1500 tweets nos resultados de buscas por termos), e que provavelmente a base é oferecida em um formato mais conveniente de manipular. (* Tweets protegidos são outra história. Eles vivem em um limbo questionável: a política de privacidade jamais menciona "tweets protegidos", então pelo menos para mim não está claro se eles são considerados informação pública (e conseqüentemente comercializável), ou se estão inclusos entre os dados pessoais que o Twitter diz não vender (o que não impede que o Twitter seja comprado e com ele seus dados, but I digress).)

A possibilidade de data mining, assim, pode aumentar com o fato de que o acesso à base de tweets é comercializado, mas ela não deixa de existir sem essa comercialização. Na verdade, a Internet inteira é alvo de data mining. Google (a organização) e outros mecanismos de busca já podem facilmente explorar toda informação pública na Internet, independentemente do seu consentimento. A diferença de postar no Twitter é facilitar a vida do Twitter e parceiros, mas postar em qualquer outro local público da web (como o identi.ca, ou seu blog pessoal) tem o mesmo risco.

É uma propriedade da Internet que toda informação pública é (em geral) facilmente acessível. Uma conseqüência disso é que coisas que antes eram muito difíceis (e.g., catar todas as notícias sobre um certo tópico ou pessoa nos jornais dos últimos N anos) agora são viáveis, e, junto com todas as vantagens que isso proporciona, vêm certas conseqüências negativas para a privacidade das pessoas. A sociedade vai ter que dar um jeito de se adaptar a isso, mas não é um problema do qual se possa escapar trocando o serviço em que essas informações serão publicadas (assumindo que se pretenda publicar essas informações para quem quer que as queira ler).

Fica a questão de se é ok o Twitter ganhar dinheiros vendendo acesso aos meus posts sem me pagar nada. Essa questão é sugerida como um exercício para o leitor.

The actual secrets

O segundo problema são os outros dados além dos tweets. Esses dados podem ser divididos em duas classes: os dados "inevitáveis", i.e., aqueles que o Twitter necessariamente obtém a partir do uso do serviço; e os dados "evitáveis", i.e., aqueles que você pode evitar mandar com um pouco de cuidado.

Os dados inevitáveis incluem:

Os dados evitáveis incluem:

Fica a questão de se é "certo" usar um serviço que coleta dados que você acha que ele não deveria coletar só porque você consegue burlar a coleta. A resposta depende de quão idealista você está se sentindo hoje.

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Uma desvantagem de usar um serviço centralizado para publicação de informações (e.g., Twitter, Blogger, Wordpress, Facebook (ok, o Facebook tem inúmeros outros problemas, but I digress)) é que os "dados inevitáveis", tais como logs de acesso, ficam concentrados com uma única organização. Mesmo na arquitetura atual da Internet, em que acessar um serviço implica contar-lhe onde você está e possivelmente outros dados, a situação não é tão ruim se os dados estão espalhados entre vários servidores, o que dificulta sua exploração. (Seu provedor de acesso continua com um bocado de informação, entretanto.)

Por outro lado, uma rede social é mais útil quando um grande número de pessoas a usa; essa é uma vantagem de "todo o mundo" usar o Twitter, ao invés de cada um "roll their own" microblog. Porém, em teoria nada impede que cada um rolle seu own microblog e todos funcionem de maneira integrada, desde que eles usem um protocolo comum de comunicação.

µ.

Conclusão

A conclusão é que talvez eu volte a usar o Twitter no futuro próximo. Ou não.

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