Elmord's Magic Valley

Computers, languages, and computer languages. Às vezes em Português, sometimes in English.

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Acentuação na língua portuguesa

2013-02-26 23:28 -0300. Tags: lang, em-portugues

No colégio a gente aprende dez mil regrinhas listando as inúmeras situações em que as palavras são acentuadas. Essa explicação da acentuação é muito mais complicada do que precisa ser, e o motivo é que ela parte de uma análise totalmente furada de por quê as palavras são acentuadas.

Basicamente, existem três "regras" que cobrem 95%* das palavras. Por padrão:

(Note que am e em seguidos de s viram ans e ens.)

E é isso, e tão somente isso. Se usa um acento quando a pronúncia da palavra sem o acento estaria errada (quem imaginaria?), e as regras de como se pronuncia uma palavra sem acento são bastante simples.

Exemplos:

Por outro lado:

Simples, hã?

E os outros 5%?

Monossílabos

O português tem uma propriedade curiosa: a sílaba tônica de palavas de uma só sílaba pode cair ou nessa sílaba (e portanto a palavra é oxítona, pois o acento cai na última (e única) sílaba), ou em lugar nenhum. Nossas regras cobrem os dois casos, com um pouquinho de imaginação:

Pelas nossas regras, se escrevemos de, a palavra cairia na primeira regra, e portanto a sílaba tônica seria a penúltima. Mas não há penúltima sílaba em uma palavra de uma sílaba só, e portanto a sílaba tônica cai em lugar nenhum, ou seja, a palavra é átona. Assim:

Exceção: Palavras de uma sílaba só que terminam em m ou ns não exigem acento, mesmo que sejam tônicas: bem, bens.

raiz vs. raízes

Nossas regras nos dizem a verdade mas não nos dizem tudo. Se escrevêssemos raizes, a palavra cairia na nossa primeira regra, e portanto seria paroxítona. Mas raízes é paroxítona, então o padrão já é o que queremos, e portanto não precisaria de acento, certo?

O problema é que a pronúncia se não houvesse o acento seria RAI-zes (com duas sílabas), não ra-I-zes (com três). Nesse caso o acento serve não só para indicar qual é a sílaba tônica, como também para dizer quais são afinal as sílabas da palavra. De qualquer forma, a idéia básica continua válida: usa-se o acento quando não queremos o padrão.

E nesse caso o padrão é dado pela seguinte regra: o português prefere ditongos decrescentes. Ditongos decrescentes são ai, ei, oi, ui, au, eu, iu, ou, isto é, aqueles em que primeiro vem a vogal, depois a semivogal. Normalmente, quando essas seqüências de vogais aparecem em uma palavra, o português prefere lê-las como ditongos decrescentes por padrão sempre que tem a oportunidade. Assim, se você escreve raizes, o português prefere juntar o ai numa sílaba só, formando um ditongo decrescente, e a pronúncia resultante é RAIzes. Como não é isso que queremos, colocamos um acento estratégico sobre o í, produzindo raízes. (É por esse mesmo motivo que escrevemos ai! que dor, mas ela foi embora.)

Fica então a pergunta: por que raiz se escreve sem acento? E a resposta é que a seqüência aiz não pode ocorrer dentro da mesma sílaba. A única consoante que pode ocorrer depois de um ditongo decrescente na mesma sílaba é s. Por isso, quando escrevemos raiz, a pronúncia não pode ser RAIz, numa sílaba só, porque o z não pode ir na mesma sílaba que o ai. Conseqüentemente, o z tem que ficar para a próxima sílaba, e como o z não pode ficar lá sozinho, ele leva o i com ele, produzindo ra-IZ.

Resumindo: raízes leva acento porque sem ele a pronúncia seria RAI-zes. raiz não leva acento porque não existe a opção de pronunciar RAIz, já que o ditongo decrescente se recusa terminantente a ser acompanhado por um z depois dele na mesma sílaba. O mesmo vale para juiz vs. juízes. (A palavra mais se pronuncia como uma sílaba só, pois o s pode ir depois do ditongo na mesma sílaba. Por outro lado, a palavra maiz, se existisse em português, se pronunciaria ma-IZ.)

De maneira análoga, sair não leva acento, pois não é possível ler essa palavra como SAIr. Mas (se eles) saírem leva, pois senão a pronúncia seria SAIrem.

Outros hiatos

Se escrevêssemos saude, a pronúncia seria SAU-de, porque, como já vimos, o português prefere ler o ditongo decrescente au do que separá-lo em duas sílabas. Como não é isso que queremos, usamos um acento: saúde. Da mesma forma, se escreve saída, pois a pronúncia é sa-Í-da, e não SAI-da.

Por outro lado, em um hiato do tipo coentro não é necessário acento, pois o hiato não pode ser confundido com um ditongo. E em Raul não vai acento porque, como vimos, não é possível ler aul como uma sílaba só em português, pois o ditongo decrescente só permite s depois dele na mesma sílaba.

Vogal + iu, vogal + ui

Seqüências do tipo aiu são ambíguas: tanto ai quanto iu são possíveis ditongos decrescentes. Conseqüentemente, tanto ai-U quanto a-Iu (rimando com partIU) seriam possíveis leituras. Qual delas o português prefere?

Pela ortografia antiga, a regra é simples: o último ditongo é escolhido. Assim, acentua-se bocaiúva (pois a pronúncia é bo-cai-Ú-va, não bo-ca-Iu-va), Piauí (pois a pronúncia é pi-au-Í, e não pi-a-Ui), feiúra (pois a pronúncia fei-Ú-ra, e não fe-Iu-ra). Por outro lado, não se acentua caiu, pois tendo que escolher entre juntar o ai ou o iu em uma sílaba só, o português prefere a segunda opção.

Pela ortografia nova, o português escolhe o primeiro ditongo, exceto se ele ocorrer na última sílaba. Assim, caiu continua sem acento, e Piauí continua com acento, mas feiura e bocaiuva perdem o acento.

éi, ói, éu

Por padrão, ei, oi, eu se pronunciam êi, ôi, êu. Logo, quando queremos que eles sejam pronunciados como éi, ói, éu, eles levam acento. Assim, fogaréu leva acento, mas morreu não.

éia, óia, óio

Pela ortografia antiga, esses tritongos seguem a mesma regra acima: levam acento quando são abertos, não levam quando são fechados. Assim, idéia leva acento, mas sereia não.

Pela ortografia nova, esses tritongos não levam acento. Por quê? Porque em Portugal eles são fechados. Assim, em nome da unificação ortográfica, se escreve tanto ideia quanto sereia sem acento. éi, ói, éu continuam sendo acentuadas quando não ocorrem em tritongos.

lêem, vôo

Pela ortografia antiga, as seqüências êe, ôo são acentuadas quando tônicas. Aparentemente essa regra só existe para fins estéticos, já que a pronúncia já estaria correta se não houvesse o acento. A ortografia nova elimina o acento nesses casos (e portanto se escreve leem, voo).

ã, ãe, ão, õe

Por padrão, ã e õ são tônicos quando ocorrem na última sílaba. Assim, manha se lê MAnha, mas manhã se lê maNHÃ. Quando não é isso que queremos, usamos um acento: órgão (não orGÃO), órfão (não orFÃO).

Por outro lado, ã e õ fora da última sílaba não afetam a acentuação. Assim, manhãZInha não exige acento.

história

Se por um lado o português gosta de ditongos decrescentes, por outro lado ele detesta ditongos crescentes (em que primeiro vem a semivogal, depois a vogal). Assim, ao ver a seqüência ia, o português prefere deixar o i e o a em sílabas separadas do que juntá-los em um ditongo crescente. Logo, se escrevêssemos historia, a pronúncia seria histoRIa.

(Curiosamente, a regra no espanhol é o contrário: em português se escreve história e Maria, em espanhol historia e María. E democracia se escreve igual em ambas as línguas, mas em português se lê democraCIa e em espanhol demoCRAcia.)

rainha, tainha, fuinha

Seqüências do tipo vogal + inha não levam acento, apesar de ai, ui, etc. nesses casos serem hiatos. Motivo? Palavras do tipo FUI-nha não existem em português (se você tentar pronunciar FUI-nha, provavelmente vai dizer algo indistinguível de funha). Logo, só a pronúncia com o hiato é "possível", e portanto o acento é desnecessário.

gu, qu

água leva acento. Por quê? Porque ua é um ditongo crescente, e como já vimos, o português tem um desapreço generalizado por ditongos crescentes, e portanto a pronúncia sem o acento seria a-GU-a. Da mesma forma, o adjetivo oblíquo leva acento, mas o verbo (eu) obliquo (o-bli-QU-o) não.

A bagunça acontece com as seqüências gue, gui, que, qui. Por razões históricas, normalmente o u nessas seqüências não é lido. Porém, em alguns casos ele é lido, e é aí que começa a sujeira.

Pela ortografia antiga:

Pela nova ortografia:

Isso tudo é uma sujeira fantástica, e eu não tenho mais nada de bom para dizer a respeito.

UPDATE: Aparentemente, pela ortografia nova, pode-se escrever eu arguí (antigo argüi), com acento agudo para distingui-lo de ele argui (antigo argúi). O conjugador de verbos do Dicionário Priberam apresenta o acento quando configurado para usar a nova ortografia (selecionando-se o ícone dAO no topo da página), e os slides desta pessoa aleatória na Internet dizem que ambas as ortografias (com e sem acento) são válidas. Não encontrei essa regra da ortografia explicitamente mencionada em lugar nenhum, entretanto. (Obrigado, Marcus Aurelius.)

Acentos diferenciais

Algumas palavras levam acento simplesmente para diferenciá-las na escrita de alguma outra palavra com a mesma pronúncia. Nesses casos não há um "princípio universal" por trás, e o jeito é lembrar quais palavras têm acento diferencial. Muitos desses acentos (e.g., ele pára de correr vs. eu vou para casa) foram eliminados na nova ortografia (produzindo manchetes ambíguas do tipo "Chuva para São Paulo"), enquanto outros permanecem (e.g., ele tem, eles têm).

Acredito que com isso cobrimos 99,99995% dos casos.

E por que tanta firula?

Por uma razão mui nobre: economizar seu braço. Na grande maior parte dos casos, as regras são tais que a pronúncia mais freqüente é a padrão, e as menos freqüentes exigem acento. Por exemplo, como vimos, palavras terminadas em a, e, o são paroxítonas por padrão. Por que essas vogais especificamente? Por que não todas? A resposta é que há uma dúzia de tempos verbais terminados em i ou u (vendi, vendeu) que desse jeito não precisam de acento. Da mesma forma, ditongos decrescentes são mais comuns do que hiatos, e portanto acentuamos os hiatos (quando necessário para diferenciá-los de ditongos) e deixamos os ditongos sem acento.

Conclusão

As regras que nós aprendemos no colégio (e que são apresentadas nas gramáticas tradicionais da língua) recitam quando se usam acentos, mas não explicam por que se usam acentos nessas situações. Quase todas as "regras" são conseqüências lógicas de meia dúzia de princípios básicos que dizem como as palavras são lidas por padrão se não forem acentuadas.

Espero que este post possa ser útil para alguma alma que esteja tentando entender os mistérios da acentuação da língua portuguesa (que não têm nada de misterioso quando explicados direito).

[Observação: por uma questão de decência e auto-respeito, este blog é escrito segundo a ortografia antiga.]

_____

* E 43% das estatísticas são inventadas na hora.

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Ver, vir, vier, vim

2013-02-07 03:19 -0200. Tags: lang, em-portugues

Eis algumas observações, perguntas e especulações.

As formas irregulares do futuro do subjuntivo no português do Brasil estão caindo em desuso em geral* (aparentemente ainda mais entre falantes mais jovens, a tal ponto que eu estou quase largando de mão de corrigir crianças quando dizem "quando eu fazer" ao invés de "quando eu fizer", em parte porque eu teria que corrigir as pessoas com quem elas convivem também). Dois verbos, entretanto, se "comportam mal" praticamente universalmente entre falantes de todas as idades e sabores.

O primeiro é o verbo ver, cujo subjuntivo futuro tradicional é vir, mas não sei se já ouvi ser assim usado na linguagem falada. (Por outro lado, frases como "quando ela vir o que eu fiz, vai ficar fula da vida" não me soam lá muito estranhas. (Não tenho certeza, mas acredito que eu praticamente sempre uso vir por escrito e ver quando estou falando, sem me dar conta em nenhum dos casos.))

O segundo verbo, vir, é ainda mais doido. Descontente em apenas fundir o infinitivo com o futuro do subjuntivo, o próprio infinitivo ganhou uma forma nova, vim, produzindo o único verbo da língua portuguesa cujo infinitivo não termina em -r**. Frases como "ele vai vim amanhã" são extremamente comuns, e a forma tradicional, "ele vai vir amanhã", é praticamente unheard of na língua falada.

O verbo vir apresenta (mais) uma peculiaridade, entretanto: tanto vim quanto vier parecem estar em uso corrente como futuro do subjuntivo, e a impressão que eu tenho é de que um mesmo falante alterna entre as duas formas. As perguntas que eu me (e vos) faço são:

  1. Os falantes de fato alternam entre as duas formas no geral?
  2. Em caso afirmativo, há alguma diferença de significado entre as duas formas, ou pelo menos é possível identificar em que contexto cada forma é utilizada?
  3. Há alternância entre outros pares de subjuntivos futuros regulares e irregulares? Os casos em que cada forma é usada são os mesmos de vim/vier?

Eis umas frases para ponderar sobre (em "português brasileiro falado"):

Feedback é mui bem-vindo.

_____

* Com exceção de uns poucos verbos mais freqüentes, tais como ser/for, ter/tiver, dizer/disser, e olhe lá. (Mui interessantemente, essa regularização separa as formas de ser/for e ir/for no futuro do subjuntivo.)

** No português falado, com exceção de pôr e derivados (e olhe lá), os infinitivos regulares (i.e., todos, menos o bendito vim) terminam em vogais tônicas. Desconfio que o vir tenha rejeitado a pronúncia "esperada" por conflito com a forma (eu) vi, e tenha rejeitado manter o -r por pura pirraça. Talvez o -m (a.k.a. consoante nasal genérica que normalmente não tem som de [m] em final de sílaba) seja um resquício do tempo em que esse verbo tinha a forma venir. Se esse é o caso, a pronúncia vim provavelmente é algo bem antigo na língua.

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Mudança fonética

2012-11-20 01:55 -0200. Tags: lang, em-portugues

Línguas mudam com o tempo. Provavelmente o tipo de mudança que ocorre mais rapidamente em qualquer língua são mudanças de pronúncia. (Muitas vezes essas mudanças de pronúncia acabam levando a mudanças gramaticais. Por exemplo, a perda de -s finais em uma língua como o português pode levar à eliminação da distinção entre singular e plural em substantivos. But I digress.)

Um aspecto interessante das mudanças fonológicas é que elas constumam ser sistemáticas: certos sons (ou seqüências de sons) são transformados em outros sons sempre que ocorrem em um determinado contexto. Assim, é possível descrever as mudanças na forma de regras que mapeiam os sons antigos para os sons novos. Uma mesma língua pode passar por mudanças distintas em diferentes regiões, produzindo línguas "filhas" que demonstram correspondências regulares entre os sons de suas palavras. Isso é facilmente visível, por exemplo, no caso do português e do espanhol: as vogais e e o curtas tônicas do latim se mantiveram como e e o em português, mas mudaram para ie and ue em espanhol, produzindo pares como fogo/fuego, terra/tierra, etc. Por outro lado, e e o longos mantiveram-se como e e o em ambas as línguas. A distinção entre vogais curtas e longas do latim original posteriormente se perdeu nas línguas latinas; conseqüentemente, há uma "perda de informação" no mapeamento das vogais originais para as do português moderno: ambos os os, curto e longo, se tornaram o mesmo som o; não é, em geral, possível determinar se um o do português vem de um o original curto ou longo, e conseqüentemente não é sempre possível saber se um o do português corresponde a um o ou ue do espanhol, portunhol não obstante. [Em geral, note bem. Eis uma exceção: os que sofrem metafonia em português (mudança de pronúncia de ô para ó, e.g., fogofogos) correspondem a um o curto em latim, e conseqüentemente a um ue em espanhol.]

Pode-se dizer* que existem três motivações principais por trás de mudanças fonológicas:

Uma das mudanças fonológicas mais interessantes (para mim) é a chamada lei de Grimm. Observe os seguintes pares de palavras em inglês e português/latim/grego: fire e pira, fish e peixe, foot e podo-, father e pater. Notou a similaridade? Um f do inglês (uma língua germânica) freqüentemente corresponde a um p em uma língua indo-européia não-germânica. A lei de Grimm descreve uma série de correspondências mais gerais entre os sons originais do proto-indo-europeu (língua que deu origem a todas as línguas indo-européias) e os do proto-germânico (língua que deu origem às línguas germânicas, tais como o inglês, o alemão e o islandês). Na verdade, "a lei" é constituída por uma seqüência de mudanças que ocorreram uma após a outra, produzindo uma mudança em cadeia. O interessante é que é possível justificar cada passo pelas motivações apresentadas acima**:

  1. As consoantes oclusivas surdas do PIE (p, t, k) tornam-se fricativas surdas (ɸ (f), θ (th), x (h)).

    Provavelmente essa mudança se deu em dois estágios. Primeiramente, p, t, k originais passaram a ser aspirados (pʰ, tʰ, kʰ), por alguma razão (talvez por analogia com as consoantes sonoras aspiradas (bʰ, dʰ, gʰ), ou para melhor diferenciá-las das consoantes sonoras simples (b, d, g), ou porque os proto-proto-germânicos se misturaram com os falantes de alguma língua não-indo-européia em que p, t, k eram aspirados, ou porque essas consoantes sempre foram opcionalmente aspiradas em PIE, ou por intervenção da maçonaria/Illuminati/atlantes/aliens/zumbis; note que essas razões não são mutuamente exclusivas).

    Posteriormente, p, t, k assimilaram o modo de articulação do ʰ, produzindo os sons relacionados ɸ (f), θ (th), x (h).

    Exemplos: pater e father, kardio- e heart.

  2. As consoantes oclusivas sonoras do PIE (b, d, g) tornam-se surdas (p, t, k).

    A mudança anterior deixou a língua sem oclusivas surdas. Ter apenas oclusivas sonoras (b, d, g) e não ter oclusivas surdas (p, t, k) é pra lá de estranho entre as línguas do mundo, e portanto há uma tendência a "equilibrar" a língua dessonorizando as oclusivas sonoras. (Algumas coisas são mais ou menos comuns que outras entre as línguas do mundo, por motivos nem sempre bem entendidos.) Além disso, o contraste entre b, d, g e bʰ, dʰ, gʰ é fraco o suficiente para motivar uma mudança que favoreça um aumento nesse contraste.

    Exemplos***: decem/dez e ten, gelidus e cold [edit].

  3. As consoantes oclusivas sonoras aspiradas do PIE (bʰ, dʰ, gʰ) tornam-se não-aspiradas (b, d, g).

    Com o desaparecimento do b, d, g originais, a aspiração não contrasta com nada (i.e., b e não são mais fonemas distintos), e portanto não se ganha nada em continuar pronunciando-a. (Fora que bʰ, dʰ, gʰ também não são sons muito comuns.)

    Exemplos: PIE *bʰréh₂tērfrater e brother ( em latim vira f em início de palavra; note a semelhança com a mudança de para f em proto-germânico (na verdade quase todas as oclusivas sonoras aspiradas viram f em latim, but I digress)).

Imagine uma conclusão decente para este post aqui.

* E aqui leia-se "eu estou dizendo"; não me dei ao trabalho de verificar se o que eu estou dizendo é uma teoria universalmente aceita ou não. Uma pesquisa rápida revelou essas notas de aula que também não citam fonte nenhuma e eu me dei por satisfeito.

** Note, entretanto, que os sons exatos do proto-indo-europeu e do proto-germânico não são conhecidos, já que não havia nem escrita (fora meia dúzia de runestones, no caso do proto-germânico), nem foneticistas, nem gravadores de MP3 na época em que essas línguas eram faladas. O que se sabe sobre essas línguas, sabe-se por meio do método comparativo, pelo qual se comparam línguas conhecidas de uma certa família e tenta-se deduzir a forma da língua original. Embora tenha se conseguido obter resultados respeitáveis através desse método, uma reconstituição exata das línguas nem sempre é possível.

*** O fonema b é curiosamente raro em PIE, e por isso é difícil achar um exemplo bom de b→p. Há explicações igualmente curiosas para essa raridade. (Outra que já ouvi, em algum episódio do Conlangery, é que o b do "proto-proto-indo-europeu" se tornou w, o que explicaria também o fato de que w é relativamente comum em PIE.)

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Earth Language

2012-08-18 20:45 -0300. Tags: lang, conlang, em-portugues

Uma IAL que eu nunca vejo mencionarem em discussões sobre IALs é a Earth Language. De fato, não sei como eu cheguei a conhecer essa coisa. Earth Language (EL) é um projeto peculiar no mundo das IALs: a língua é baseada primariamente em ideogramas visuais, ao invés de palavras vocais. A inspiração da autora vem dos ideogramas chineses, que são compreensíveis por falantes de diversas línguas, tais como mandarim, cantonês, wu e demais línguas chinesas, bem como falantes de japonês e, historicamente, coreano e vietnamita, além de serem mais estáveis ao longo dos séculos do que palavras vocais. Os ideogramas da EL, porém, são mais sistematizados: o sistema consiste de 91 símbolos base, que podem ser compostos por sobreposição.

O seguinte GIFzinho animado (roubado do site da língua) dá uma idéia do funcionamento do sistema:

[Animação demonstrando a composição de caracteres em Earth Language]
Por Tutatis, pare esse maldito GIF

Como se pode ver pelo exemplo acima, em alguns casos (e.g., sol = círculo + aberto) uma combinação de símbolos é usada mais por sua imagem gráfica do que pela composição dos significados. Não há limite quanto ao número de símbolos que podem ser sobrepostos, mas para manter a legibilidade, também é possível unir símbolos (ou grupos de símbolos sobrepostos) por um hífen, ao invés de sobrepô-los.

Para formar frases completas, alguns símbolos gramaticais são usados. Por exemplo, há um símbolo que indica que o próximo ideograma é um verbo transitivo. Esse símbolo pode ser composto com o símbolo de "esquerda/antes", por exemplo, para indicar o tempo passado, e de maneira análoga para outros tempos e modos verbais. Há outros símbolos que indicam sujeito, objeto e outras relações gramáticais, de modo a permitir uma ordem livre dos elementos da frase. A idéia é que o "falante" possa escrever a frase na ordem em que escreveria em sua língua nativa, ou da maneira que lhe for mais natural. (Por outro lado, a língua impõe uma ordem modificador-precede-modificado, de modo que adjetivos vêm sempre antes de substantivos. De fato, até orações subordinadas (e.g., o homem que eu vi) devem vir antes do substantivo que modificam.)

Além da forma escrita, a língua oferece outros métodos de utilização. Um dos métodos bastante enfatizados no site da língua é uma linguagem de sinais, com gestos baseados nas formas de cada um dos 91 símbolos. Os gestos podem ser feitos tanto através da forma da mão quanto através de movimentos no ar desenhando o símbolo. Assim, com duas mãos é possível representar até quatro símbolos ao mesmo tempo (duas formas e dois movimentos), permitindo gesticular caracteres compostos, para valores adequados de coordenação motora.

Também há uma forma vocal, mas essa é considerada uma forma secundária de comunicação pela autora. Ao invés disso, ela propõe que cada pessoa fale em sua própria língua nativa, e utilize-se dos gestos para transmitir o significado para o ouvinte que não compreende a língua. Um dos argumentos para tal é evitar a substituição das línguas locais pela língua mundial. A cada símbolo é atribuído um som silábico; caracteres compostos são pronunciados utilizando uma sílaba [nə] para ligar cada componente. A ordem dos componentes não importa, já que as sílabas representam o caractere composto por sobreposição, no qual não há ordem para os símbolos.

O site da língua é totalmente caótico um tanto quanto desorganizado, e ainda mantém a cara de página feita em 1996, embora ainda seja mantido. Os textos também contêm uma dose de falta de noção, incorporando uma versão extrema da hipótese de Sapir-Whorf, com afirmações mal-fundamentadas sobre a estrutura das línguas em questão (negrito e sublinhado no original):

In the areas where people had lived in the same simple way for thousands years until recently,
their languages must be simple too. [Defina simples, camarada. Inuktitut é simples? Ubykh?]
The system of Japanese language raised by long-term inhabitants in the small islands
far from other places with four seasons have been raised for calling sympathy and harmony
more than working for logical insistences. [O que não impediu os japoneses de dominarem boa parte da Ásia no começo do século 20.]

The people with English had repeatedly been colonists in their history;
also have often been pioneers in science and technology.
Why could this be possible?
The main reason is that the thinking ways of the English language have supported them:
English has loosely accepted foreign words into it,
taking priority for efficiency to win/enjoy immediate things;
also the grammar is for insisting one line logic [huh?],
usually making clear the subject and its object in a sentence.
Some fundamental English words also have changed/widened the definition [como basicamente qualquer língua humana]
showing the competitive thought and efficiency.
[Também é a língua com a qual surgiu o movimento hippie.]

E mais adiante:

Don’t you feel scared that the entire world will be molded in the English way?
Don’t you want coexistence of lively cultural blossoms,
as nature makes various flowers, circulating diverse lives in each land?

What do you think about stopping/shortening arms races that use a lot of natural resources,
destroying environment and inflaming fears and fights?
Instead, how about having the new container of global thoughts for advancing cooperation,
coexistence and harmony
, without destroying nature; also for lightening up the future with hope,
helping individual creations and environmental protection?

I named Earth Language (EL) for this container: a new communication tool for the global world.
[...]
EL is going to make the world peaceful and round rather earlier than just exclaiming
opposition to war/nuclear power/environmental pollutions,
because it leads the users to think along continuous nature.

Sandices à parte, o projeto é interessante, e a língua parece bastante completa (embora o dicionário não seja de navegação muito agradável).

Comentários / Comments

Des idées fatales

2012-08-15 14:38. Tags: music, lang, em-portugues

Interessante como o francês matou quase todas as marcas de plural da pronúncia, mas as mantém na escrita. Me lembra um certo comentário.

Desireless – Voyage Voyage

Au dessus des vieux volcans
o desy de vju vɔlkɑ̃
Glisse des ailes sous les tapis du vent
glis dez el su lə tapi dy vɑ̃
Voyage, voyage
vwajaʒ vwajaʒ
Eternellement
etɛrnelemɑ̃

De nuages en marécages
də nyaʒ ẽ maʀekaʒ
De vent d'Espagne en pluie d'équateur
də vɑ̃ despaɲɑ̃ ply dekwatœʀ
Voyage, voyage
vwajaʒ vwajaʒ
Vole dans les hauteurs
vɔl dɑ̃ le utœʀ

Au dessus des capitales
o dsy de kapital
Des idées fatales
dez ide fatal
Regardent l'océan
ʀəgaʀdẽ loseɑ̃

Voyage, voyage
vwajaʒ vwajaʒ
Plus loin que la nuit et le jour
ply lwa? ke lə nɥi e lə ʒuʀ
Voyage
vwajaʒ
Dans l'espace inouï de l'amour
dɑ̃(ŋ) lespas inui də lamuʀ
Voyage, voyage
vwajaʒ vwajaʒ
Sur l'eau sacrée d'un fleuve indien
syʀ lœ sakʀe dœ̃ flœv ɛ̃djɛ̃
Voyage
vwajaʒ
Et jamais ne revient
e ʒame nə rəvjɛ̃

Sur le Gange ou l'Amazone
syʀ lə gɑ̃ʒ o lamazõ
Chez les blacks, chez les sikhs, chez les jaunes
ʃe le blɛk ʃe le sik ʃe le ʒõ
Voyage, voyage
vwajaʒ vwajaʒ
Dans tout le royaume
dɑ̃ tu lə ʀajom

Sur les dunes du Sahara
syʀ le dyn dy saaʀa
Des iles Fidji au Fujiyama
dez il fidʒi o fuʒiama
Voyage, voyage
vwajaʒ vwajaʒ
Ne t'arrêtes pas
nə taʀɛtə pa

Au dessus des barbelés
o dsy de baʀbəle
Des coeurs bombardés
də kœʀ bõbaʀde
Regardent l'océan
ʀəgaʀdẽ loseɑ̃

...

Sobre os velhos vulcões
 
Deslizam asas sob os tapetes do vento
 
Viaja, viaja
 
Eternamente
 

De nuvens a pântanos
 
Do vento da Espanha à chuva do equador
 
Viaja, viaja
 
Voa nas alturas
 

Sobre as capitais
 
Idéias fatais
 
Observam o oceano
 

Viaja, viaja
 
Mais longe que a noite e o dia
 
Viaja
 
No espaço inaudito do amor
 
Viaja, viaja
 
Sobre a água sagrada de um rio indiano
 
Viaja
 
E nunca retorna
 

Sobre o Ganges ou o Amazonas
 
Entre os negros, entre os sikhs, entre os amarelos
 
Viaja, viaja
 
Em todo o reino
 

Sobre as dunas do Saara
 
As ilhas Fiji ou o monte Fuji
 
Viaja, viaja
 
Não pares
 

Sobre os arames farpados
 
Corações bombardeados
 
Observam o oceano
 

...

Tradução baseada em uma tradução para o inglês e no Wiktionary. Transcrição fonética baseada na Wikipédia[1][2], no Wiktionary e no meu ouvido. Correções são bem-vindíssimas.

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Línguas mudam

2012-07-23 19:17 -0300. Tags: lang, rant, em-portugues

Ontem ocorreu a festinha de aniversário da minha irmã, e conseqüentemente uma reunião familiar. Como em mais de 50% das reuniões desse ramo da família, em algum ponto surgiu uma discussão sobre como as pessoas falam errado hoje em dia. O português "correto", dependendo da fase da lua, inclui:

21 anos de convivência me levaram a crer que discutir é inútil, embora eu ainda me arrisque a fazer um remark ou outro no meio das discussões. Vocês falam latim, pessoas? Esse tal de português correto a que vocês se referem nada mais é do que latim com dez ou quinze séculos de erros acumulados, penso eu comigo mesmo. E esse tal de latim nada mais é do que proto-indo-europeu com dez ou quinze séculos de erros acumulados. Mas eu fico na minha.

Desde pequeno eu observo que os tipos de erros cometidos por cada ramo da família são diferentes. Por exemplo, do lado paterno o para mim fazer (ao invés do para eu fazer do português "standard") é bastante comum. Do lado materno, isso praticamente não ocorre, mas em compensação há uma tendência geral a usar os pronomes retos ao invés dos oblíquos (ele viu nós). O ponto digno de observação é que os erros de cada grupo de falantes são consistentes. E uma vez que línguas nada mais são do que pura convenção, erros consistentes não são exatamente erros.

Convenção aqui é a palavra-chave: uma frase está "correta" se ela segue as convenções estabelecidas entre os falantes. Diferentes situações implicam diferentes convenções, entretanto: as convenções utilizadas para textos formais escritos são diferentes das convenções usadas pela língua formal falada, que são diferentes das convenções usadas na linguagem informal. A língua não é uma unidade uniforme, mas sim é composta por diferentes variantes, ou registros, que são usados conforme a situação. Exigir a presença das marcas de plural na língua formal escrita é perfeitamente válido; exigir que as pessoas pronunciem todas as marcas de plural em conversas informais é ridículo. (No caso da língua escrita em particular, especialmente em textos formais, o conservadorismo lingüístico é útil para garantir que textos escritos hoje possam ser compreendidos daqui a cinqüenta ou cem anos.)

Mas mesmo as variantes formais da língua sofrem variações com o tempo. Ninguém mais usa o vós, por exemplo. O pretérito mais-que-perfeito (eu fizera) está em vias de cair do cavalo também, embora algumas pessoas ainda gostem de usá-lo em textos literários. Hoje em dia há uma contenda quanto ao uso de pronome oblíquo em começo de frase (me parece correto, ao invés de parece-me correto). O pronome oblíquo inicial soa errado aos ouvidos de Portugal, e os gramatiqueiros prescritivistas brasileiros tendem a declarar a construção como inválida. No Brasil, entretanto, o pronome oblíquo inicial é comum na língua falada, mesmo nas variantes formais, e há uma tendência geral a se usar próclise sempre (i.e., colocar o pronome oblíquo sempre antes do verbo), e aparentemente essa é uma tendência já de séculos [citation needed]. Tentar forçar a língua escrita a um padrão estranho a todos os falantes da dita língua (o português do Brasil) é um tanto quanto tosco. É que nem tentar forçar os falantes de português do Brasil a escreverem estou a fazer, ao invés de estou fazendo. (Nesse caso, o português do Brasil é mais conservador, na verdade.)

Conseqüentemente, podemos concluir que daqui a uns duzentos ou trezentos anos provavelmente alguns usos do plural terão caído em desuso. "Mas como vamos viver sem o plural?", ouvem-se os gritos de horror de alguns. Bom, tecnicamente nós já estamos vivendo sem algumas marcas de plural na língua falada há muito tempo, e ninguém sofreu danos deletérios. Além disso, historicamente temos diversas instâncias de perdas de features gramaticais. Já ouviu falar do acusativo? Assim como em português nós marcamos o plural com uma flexão especial dos substantivos, adjetivos e pronomes, em latim havia uma flexão especial que se usava para marcar que uma palavra era o objeto direto de um verbo. Assim, puella poetam videt significava "a menina vê o poeta", mas puellam poeta videt significava "o poeta vê a menina". O -m final que costumava marcar o acusativo (o objeto direto) com o tempo passou de um m perfeitamente audível a uma simples nasalisação da vogal que o precede (de maneira similar, os m finais em português normalmente não são pronunciados como um m "de verdade"), e com o tempo simplesmente se perdeu. Como resultado, marca de acusativo em substantivos e adjetivos em português simplesmente não existe (embora resista em alguns pronomes, e.g., eu vs. me). "Como vamos viver sem acusativo?", ouviam-se os gritos de horror da antigüidade. Exatamente assim, respondemos nós. A marca do objeto direto por flexão deu lugar à indicação pela ordem da frase (i.e., a menina vê o poetao poeta vê a menina). E tem funcionado muito bem nos últimos dez séculos. Da mesma forma, a flexão de plural está dando lugar ao plural marcado apenas nos artigos e verbos, e em substantivos e adjetivos em contextos limitados.

"Mas então as línguas estão perdendo itens gramaticais o tempo todo? Daqui a pouco não vai sobrar nada da gramática!", ouvem-se os gritos de horror. Bom, não é bem assim. Ao mesmo tempo em que as línguas perdem features gramaticais, elas também adquirem features novas com o tempo. Por exemplo, na transição do latim para o português, a língua adquiriu um futuro do subjuntivo (quando eu fizer), que não existia em latim e é relativamente raro entre as línguas do mundo. O português também ganhou um igualmente raro infinitivo conjugado (para nós fazermos), que compartilha das mesmas formas do futuro do subjuntivo nos verbos regulares. O futuro do presente original do latim foi perdido e substituído por uma forma composta usando o verbo haver (amar hei (= hei de amar)), e posteriormente a forma composta foi readquirida como um tempo verbal (amarei). (Aliás, é por isso que a mesóclise é possível em português: o pronome pode ser intercalado no verbo porque o verbo é originalmente composto por duas palavras separadas.) O futuro está em vias de se perder de novo (amareivou amar), por sinal. É assim que funciona a porcaria.

Uma coisa que me deixa admirado nessa história de variantes lingüísticas é que muitas pessoas simplesmente não têm consciência de que usam mais de uma variante da língua. Ontem, durante a discussão, um dos presentes declarou que falava o português "correto". Só que isso não é verdade quanto a praticamente qualquer falante, se "correto" refere-se ao padrão literário da língua prescrito pelos gramatiqueiros. Ainda que algumas pessoas mais cuidadosas evitem omitir os plurais, a omissão dos -r finais de conjugações verbais (com exceção de pôr, for) é praticamente universal na língua falada, quando não se está dando ênfase ao verbo. O mesmo vale para a substituição de pronomes oblíquos de terceira pessoa por pronomes retos (eu encontrei ele na rua, ao invés de eu o encontrei na rua). Alguns "erros" são tão comuns que raramente são notados, mesmo quando a pessoa está cuidando para encontrar erros. Orações subordinadas são uma fonte particularmente freqüente de desvios:

Pronomes também têm adquirido uns usos curiosos ultimamente. Uma construção que eu vejo ser usada com bastante freqüência na língua falada são coisas do tipo o Instituto de Informática, ele fica no Campus do Vale (com um ele a mais referindo-se ao sujeito que acabou de ser mencionado). Algumas pessoas usam os pronomes de terceira pessoa como pronomes resumptivos (o cara que eu falei com ele). Alguns desses usos me dão coceira no rim, já que por alguma razão eu mesmo não os uso*. É normal, entretanto, que inovações lingüísticas se espalhem gradualmente, e portanto não tenham aceitação absoluta de imediato. Pode também acontecer de elas simplesmente se espalharem entre alguns grupos e não entre outros, produzindo dialetos divergentes.

No más.

[* Eu costumo cometer uma atrocidade diferente e dizer o cara que eu conversei com, roubando uma feature do inglês. Não acho provável que essa construção venha a adquirir uso amplo em português, entretanto.]

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Sorĉo-kodo

2012-06-23 09:39 -0300. Tags: random, lang, esperanto, em-portugues

Eu proponho que "source code" seja traduzido por sorĉkodo (código-feitiço) em esperanto, ao invés do vulgar fontkodo. Obviamente, o programador passa a ser o sorĉisto (feiticeiro, cf. wizard). Os islandeses é que sabem o que estão fazendo.

Afinal de contas, computer so-called science has a lot in common with magic. (Né?)

[Disclaimer: dado o histórico de visitantes do blog, faz-se mister declarar explicitamente que isto aqui era pra ser brincadeira.]

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Desexcelências do esperanto

2012-05-25 04:11 -0300. Tags: lang, conlang, esperanto, em-portugues

EDIT: Não sei como este post veio ao conhecimento de tanta gente. Os comentaristas podem se dar ao trabalho de ler o post original linkado no começo deste antes de dizer que "quando eu falar o esperanto" minhas críticas desaparecerão. Não é a mim que os esperantistas têm que convencer, é aos potenciais aprendizes da língua. No outro post eu argumentei em favor do esperanto, e só escrevi este post a pedidos. Respondi alguns dos comentários abaixo. Tenho um grande respeito pelo movimento esperantista, ainda que não seja mais ativo no movimento. Não me decepcionem, galera. Obrigado.

EDIT': Follow-up aqui.

EDIT'': Dada a tendência das pessoas a não ler os textos linkados antes de comentar e dada a incomodação que esse texto (que teve uma divulgação muito maior do que deveria) tem me causado, não é mais possível linkar este post a partir de outras páginas; a URL redireciona para lugares aleatórios. Por ora não vou desabilitar comentários, pois acho importante que os leitores possam dar sua opinião, mas vou simplesmente apagar comentários de gente que demonstre que não leu o post original antes de comentar (coisa que pelos logs de acesso do blog vi que pouquíssimos fizeram).

A pedidos, complemento o post sobre o esperanto com um resumo das críticas de natureza lingüística mais comuns feitas à língua.

Críticas freqüentes

Alfabeto e pronúncia

O esperanto usa um alfabeto de 28 letras: as letras q, w, x, y não são usadas, mas o alfabeto conta com seis letras acentuadas extra:

O objetivo dessas letras são dois: manter o princípio de uma letra para cada fonema da língua, e manter a grafia das palavras razoavelmente próxima da língua de onde a palavra saiu. A letra ĥ (e seu respectivo som) está em vias de extinção, tendo sido gradativamente substituída por k ao longo da evolução da língua (e.g., meĥanikomekaniko mecânica). Objetivos nobres ou não, o alfabeto é freqüente alvo de crítica, particularmente devido à dificuldade de digitá-lo. Antigamente visualisar texto em esperanto costumava ser um problema, mas com o suporte nativo a Unicode dos sistemas modernos esse problema praticamente não existe mais. Digitar ainda é um problema, embora sistemas GNU/Linux modernos normalmente aceitem, por exemplo, ^ + c para produzir ĉ. (O ŭ fica mais escondido: AltGr-Shift-9 produz o ˘.)

Outro alvo de crítica é o c, que tem som de ts, como é comum entre as línguas eslavas. A idéia por trás disso é manter a grafia das palavras próxima à das línguas de origem (cirklo "tsírklo", círculo) e ao mesmo tempo atribuir um som distinto a cada letra (o que exige dar um som ao c que seja distinto dos sons das letras s e k). Se por um lado isso produz palavras que têm uma aparência familiar, por outro lado produz maravilhas como pico ("pítso", pizza) e cunamo ("tsunámo", tsunami).

Milhares de ortografias diferentes já foram propostas. O aspecto do resultado não agrada muito aos olhos, e torna as palavras menos reconhecíveis. Um ponto interessante que já vi mencionarem é que o problema real não são as letras extra do alfabeto, e sim que o esperanto tem sons demais: eliminando os sons das letras extra, elimina-se as letras e a dificuldade que alguns possam ter de pronunciá-las. (Vale notar que os sons correspondentes às letras acentuadas não existem em latim, com exceção do ŭ.)

O acusativo

Muita, mas muita gente reclama da marca obrigatória do caso acusativo, que indica o objeto direto da frase, pela terminação -n. Um bocado de línguas marcam o acusativo (e.g., alemão, japonês, russo, finlandês), mas um outro bocado não marca (e.g., inglês, português, norueguês, chinês) [Edit: exceto vestigialmente em alguns pronomes, no caso das línguas indo-européias, como citado no post anterior]. Não tenho números, mas desconfio que a coisa fique 50-50*. A existência do acusativo é a principal fonte de guerras santas em fóruns esperantistas. É uma questão de gosto, no final das contas. O fato é que se não houvesse marca de acusativo em esperanto, provavelmente ninguém daria falta.

Um problema derivado é que a marca de acusativo não interage bem com nomes não-esperantizados que não terminam em vogais. Diz o Plena Manlibro de Esperanta Gramatiko que nesse caso pode-se usar o nome sem o -n, mas não creio que isso seja consenso; as regras originais da língua não se manifestam nesse sentido. Outra solução comum é adicionar -on ao final da palavra, incluindo a terminação de substantivo junto com a marca de caso (mi vizitis Liverpool-on "eu visitei Liverpool"), ou esperantizar o nome (mi vizitis Liverpulon).

Gender neutrality

O esperanto possui um sufixo para derivar o feminino de uma palavra (-in), mas não possui um sufixo equivalente para indicar o masculino. Tradicionalmente, boa parte (a maior parte?) das palavras que se referem a seres humanos eram tomadas como masculinas por padrão (similar ao que ocorre em português); hoje em dia o consenso é de que a maior parte dessas palavras são neutras (e.g., doktoro, sem maiores qualificações, pode ser um doutor de qualquer sexo); para outras palavras, não há consenso (e.g., amiko "amigo (ou amiga (ou não))"). De qualquer forma, é possível criar uma palavra feminina correspondente a partir dessas palavras neutras (doktorino), mas não há um equivalente para o masculino. Além disso, algumas palavras são inerentemente masculinas (e.g., patro "pai", da qual se deriva patrino "mãe", mas não há uma palavra diretamente equivalente ao "parent" do inglês, embora ocasionalmente se proponha genitoro, ou generinto (o particípio passado ativo de generi "gerar", i.e., "aquele que gerou")).

O esperanto possui um prefixo, ge-, que indica grupos de ambos os sexos: gepatroj significa "pais (e mães)". ge-, entretanto, implica a presença de ambos os sexos (gepatroj não é aplicável a um grupo de apenas homens ou apenas mulheres). Por esse motivo, tradicionalmente não se admite ge- com palavras no singular, embora ocasionalmente se veja gepatro como "parent".

Inúmeras vezes já se propôs o sufixo -iĉ como o masculino de -in (por analogia aos sufixos -ĉj e -nj, que formam apelidos de nomes masculinos e femininos, respectivamente), mas a adoção não é muito forte. A principal vantagem de se ter um sufixo especializado para o masculino é que sua presença em tese empurraria as palavras dubiamente neutras para totalmente neutras (i.e., amiko passaria definitivamente a servir para ambos os sexos, e amikiĉo e amikino seriam as formas gendered). Tenho que admitir, entretanto, que para mim (e provavelmente para muitos) o -iĉo soa horrível.

Essa para mim é a fatal flaw do esperanto. Ela é mais grave do que os outros problemas porque é um problema inerente à língua; não é algo que desaparece à medida em que se adquire fluência.

Uma crítica comum é que o esperanto não tem um pronome neutro de terceira pessoa. O problema aí são os falantes, não a língua: o esperanto sempre teve o pronome ĝi, que supostamente deveria servir como pronome neutro, mas que comumente, por analogia ao it do inglês, não se costuma usar para pessoas. (Já encontrei mil vezes a afirmação de que o próprio Zamenhof recomendava o uso de ĝi como pronome neutro para pessoas, mas nunca com citação de referência. [Edit: Jen via referenco. Dankon, Marcus Aurelius!])

Críticas menos freqüentes

Nomes dos países e seus habitantes

Em esperanto há duas classes de nomes de países e correspondentes gentílicos:

Segundo o Plena Manlibro (traduzido), "Zamenhof e outros falavam sobre uma distinção entre o velho mundo, onde os países pertencem a um povo particular, e o novo mundo, onde todos os povos são iguais. Isso foi mera teoria, que nunca se realizou na língua." So much para uma língua que pretende promover a igualdade entre os povos. Essa é a lesser fatal flaw, para mim, mas essa é fácil de corrigir, sem alterar a língua: basta não usar os nomes dos povos (e.g., hispano), e derivar o gentílico sempre a partir do nome do país (Hispaniohispaniano). Todos comemora.

Conclusão

No geral, como disse no outro post, o esperanto é uma língua muito bem feita, mais lógica e (conseqüentemente) mais fácil de aprender do que uma língua natural típica, e creio que esteja melhor que a concorrência (as outras IALs) nesse sentido. O sistema de derivação, em particular, mata a pau todo o mundo (até o Lojban, a famosa língua lógica). Porém, a língua possui seus problemas, alguns mais sérios que outros, o que atrapalha sua adoção. De qualquer forma, acho que vale a pena aprender a língua, nem que seja apenas pela boa noção de gramática que ela oferece e para ler a Neciklopedio. (Aos seres que ocasionalmente criticam o esperanto de ser "uma língua sem cultura" (o que da minha parte não seria defeito), favor ler os artigos da Neciklopedio sobre o movimento esperantista. Obrigado.)

* O 50-50 refere-se a marcar morfologicamente o sujeito e o objeto de maneira distinta. Nem toda língua que o faz usa o nominativo para o sujeito e o acusativo para o objeto. Algumas marcam o sujeito de um verbo intransitivo (sem objeto) com o mesmo caso do objeto de um verbo transitivo (são as chamadas ergativo-absolutivas). Algumas marcam o sujeito de um verbo intransitivo com um caso ou outro, dependendo de se o sujeito é o agente ou o paciente da ação (são as chamadas ativo-estativas). Algumas são nominativo-acusativas para a primeira e segunda pessoa e ergativo-absolutivas para a terceira. Algumas são ainda mais atípicas. Línguas são um negócio muito legal, se vocês querem saber.

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Esperanto?

2012-05-16 20:16 -0300. Tags: lang, conlang, esperanto, em-portugues

O esperanto é uma língua criada no século 19 por um camarada chamado Zamenhof. A idéia do esperanto é ser uma língua regular, fácil de aprender e neutra (não pertencente a um povo específico), para servir como uma segunda língua comum a todo o mundo. A primeira publicação sobre a língua veio ao mundo em 1887, e o primeiro congresso internacional ocorreu em 1905. Estimativas do número de falantes atualmente variam de 100 mil a 2 milhões. Por qualquer estimativa, é a IAL mais falada hoje. O vocabulário da língua é baseado primariamente nas línguas latinas, com algumas contribuições germânicas e eslavas.

No Brasil, o movimento espírita é o principal difusor do esperanto, e foi por meio de parentes espíritas e suas relações transitivas que tomei conhecimento da língua. (A ligação com o espiritismo é meramente incidental, entretanto.) Quando tinha uns treze anos, fiquei curioso sobre a língua e resolvi pesquisar nas Internets a respeito. Encontrei um portal de cursos online muito bom, e comecei a aprender a língua por lá. Em cerca de seis meses, estava falando a língua competentemente. Quando tinha uns 14 ou 15 anos, fui convidado a participar do Verda Kafo, um evento esperantista que ocorre todo mês em Porto Alegre. Comecei a comparecer no Verda Kafo regularmente. Participei de alguns eventos promovidos pela Associação Gaúcha de Esperanto. Tentei dar um curso de esperanto no colégio, que contou com uns três participantes e não passou da terceira aula. Todos comemora.

Em 2008, problemas pessoais me levaram a me isolar um pouco (mais) do mundo e perder um pouco (mais) da minha esperança na humanidade. Deixei de ir ao Verda Kafo e outros eventos. Longe do movimento esperantista, lancei sobre o esperanto um olhar mais crítico, difícil de se ter quando se está contagiado pela euforia do movimento esperantista, rodeado de um bando de gente com ideais semelhantes aos seus. O esperanto, no geral, é uma língua muito bem feita, mas possui diversos "pequenos probleminhas" que contribuem para a aversão à lingua e a desistência de potenciais falantes. Qualquer pequeno probleminha é desculpa suficiente para não se aprender a língua, que, ademais, é "uma língua que ninguém fala". (O fato de que ela deixaria de ser uma língua que "ninguém" fala se mais pessoas a aprendessem é irrelevante. Ninguém tem tanto tempo livre para resolver o problema da comunicação internacional. (O fato de que é mais rápido aprender esperanto do que inglês também é irrelevante. O inglês, ademais, é "uma língua que todo o mundo fala".))

Da minha parte, eu me daria por satisfeito se houvesse alguma língua universal, fosse ela esperanto, inglês, latim ou sumério. No entanto, tenho contato com o inglês desde pequeno, e leio mais em inglês do que em português há uns seis anos, e mesmo assim nunca deixo de me surpreender com palavras e expressões idiomáticas novas nessa língua. Creio que o número de falantes fluentes de inglês no mundo deixe a desejar no quesito "universal", e creio que qualquer língua natural enfrentaria as mesmas dificuldades. Uma língua artificial construída sistematicamente com o intuito de servir à comunicação internacional me parece uma solução mais apropriada ao problema, e neste mundo o esperanto é a IAL com maiores chances de atingir adoção mundial, mesmo com seus pequenos problemas. Sinceramente não sei se um dia ele chega lá, entretanto. ("Se um dia o mundo chega lá" expressa melhor o alvo da minha descrença.)

Mas mesmo que o esperanto nunca venha a servir como língua universal, há pelo menos um bom motivo para aprender a língua: aprender esperanto ajuda a aprender outras línguas posteriormente: estudando esperanto, você será exposto a diversos conceitos gramaticais realizados de maneira regular, o que lhe ajudará a entender melhor esses conceitos. Em um experimento com estudantes de ensino médio na Europa, verificou-se que um grupo que estudou esperanto por um ano e francês por três terminou com um domínio melhor do francês do que um grupo que estudou francês durante os quatro anos. Aliás, se o esperanto tem alguma chance de se tornar uma língua universal, essa me parece uma das melhores estratégias de atingir esse objetivo: promove-se o esperanto como um meio de facilitar o aprendizado de outras línguas. Milhares de pessoas aprendem a língua dessa maneira, e então seguem aprendendo inglês e as outras línguas estrangeiras que pretendam aprender. A base de falantes de esperanto cresce, e de repente o mundo se dá conta de que uma boa porção da população mundial possui o esperanto como língua comum. Mais pessoas aprendem esperanto, as vantagens do esperanto como língua universal começam a se tornar evidentes, e finalmente a língua ganha adoção mundial oficial. Todos comemora.

E qual é que é dessa língua?

Apresentar-vos-ei uma introdução ao esperanto por meio de alguns exemplos.

La alta knabino legas malnovan libron atente.
La álta knabíno lêgas malnôvan líbron atênte.
A menina alta lê um livro velho atentamente.

La: é o artigo definido. Ele não flexiona, i.e., não há formas separadas para singular/plural, masculino/feminino, etc.; la = o, a, os, as.

alt-a: todo adjetivo em esperanto termina em -a. Adjetivos não possuem gênero (formas separadas para masculino/feminino).

knab-in-o: todo substantivo em esperanto termina em -o. knab- é um radical que significa "menino". -in- é um sufixo que deriva o feminino a partir de uma palavra masculina ou neutra.

leg-as: há seis tempos/modos verbais em esperanto:
presenteleg-as
passadoleg-islia, leu
futuroleg-oslerá
condicionalleg-usleria, lesse
volitivoleg-uleia
infinitivoleg-iler

Verbos não conjugam por pessoa: mi legas (eu leio), vi legas (você lê), ni legas (nós lemos), etc.

mal-nov-a-n: mal- é um prefixo que deriva o oposto de uma palavra; nova novo → malnova velho. A idéia por trás disso é reduzir o número de radicais que se tem que aprender para usar a língua. O -n é a marca do caso acusativo, que indica o objeto direto da frase. Em português, substantivos não têm marca de caso, mas alguns pronomes têm: em Ela me viu, me é o acusativo de eu. Em esperanto, assim como em latim e muitas outras línguas, substantivos, adjetivos e pronomes recebem a marca de caso. (Diferentemente do latim, só há dois casos em esperanto: o nominativo (sem -n) e o acusativo (com -n).) A marca de acusativo traz duas vantagens à língua:

libr-o-n: livro, no acusativo.

Vale notar que o "um" que aparece na tradução não consta no original; a ausência de artigo ou algo que o valha é suficiente para indicar indefinição: la knabino legas (a menina lê) vs. knabino legas (uma menina lê).

atent-e: trocando-se o -a final de um adjetivo por -e, deriva-se o advérbio correspondente: atenta (atento) → atente (atentamente).

Ŝiaj okuloj avide trakuras la paĝojn.
shíai okúloi avíde trakúras la pádjoin.
Seus olhos percorrem avidamente as páginas.

ŝi-a-j: O plural em esperanto é indicado por -j (que se pronuncia i, como semivogal). Ŝi significa "ela"; ŝi-a é o pronome possessivo correspondente (seu, dela); ŝi-a-j é o plural (seus).

okul-o-j: olhos, no plural.

tra-kur-i: percorrer: tra (através) + kuri (correr); "correr através de".

paĝ-o-j-n: páginas, no plural e no acusativo.

Afiksoj

Já mencionei o mal-, prefixo que deriva o oposto de uma palavra. O esperanto possui um sistema de derivação bastante completo que permite criar muitas palavras a partir de poucos radicais. Por exemplo:

Isso reduz bastante o número de palavras que se precisa aprender para usar a língua. Como os mecanismos de derivação são largamente regulares, freqüentemente compreende-se uma palavra nunca vista antes imediatamente. É comum criar palavras novas enquanto se está falando/escrevendo, e normalmente a palavra será prontamente compreendida pelo ouvinte/leitor.

Mais informações?

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Manuscrito de Voynich

2012-04-04 01:13 -0300. Tags: lang, em-portugues

[xkcd: Voynich Manuscript]

Hoje fiquei sabendo desse tal de manuscrito de Voynich. Trata-se de um livro escrito por volta do século 15, em um sistema de escrita maluco, com ilustrações de plantas inexistentes e outras maravilhas. Até hoje não se conseguiu decifrar o livro com qualquer certeza. Há quem diga que o livro é um hoax, sem sentido nenhum. O mais interessante dessa história é que o livro apresenta ao mesmo tempo características que indicam uma língua natural (e.g., distribuição estatística dos caracteres, regras aparentes quanto aos lugares em que certos caracteres podem aparecer em uma palavra) e características de um texto cifrado. Se é um hoax, foi preocupantemente bem feito, e o autor merece três estrelinhas. (Aliás, estrelinhas não faltam no livro, propriedade que há quem compare com obras de glossolalia.)

Ainda não li muito sobre o assunto. Para mais informações, consulte sua glândula pineal.

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