Anarquia Teocrática

Dados axiomas suficientemente estapafúrdios, tudo faz sentido

The truth

2019-12-03 17:39:00 +0000. Tags: whatever

"Are you ready for the truth?", asked Hu.

"What truth?", asked Shen.

"That's the problem, isn't it?", said Hu. "If I tell you and you're not ready, you will die instantly. So say the old books anyway. We've created a whole religion of symbolism and ritual that vaguely alludes to it, so no one is ever directly exposed to it. The old masters never talk about it explicitly. Knowledge of it is transmitted slowly, over the course of a lifetime, while at the same time you acquire the mental strength necessary to contemplate it and understand it. I've been living in the temple for thirty years now, and I think I can now contemplate it."

"And do you understand it?", asked Shen.

Hu remained silent for a minute, his eyes lost in unfathomable distance. He died, though not instantly.

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Ode oito mil

2017-09-15 05:13:00 +0000. Tags: poema

Colorful is the plantain, we quantify it;
Colorful is the plantain, we despise it.

Colorful is the plantain, we pierce it through someone's neck;
Colorful is the plantain, we meet it with silent reject.

Colorful is the plantain, we toss it onto the ground;
Colorful is the plantain, we kick it without a sound.

(With apologies to whoever it may.)

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Uma história de decadência inerte

2014-08-05 02:21:38 +0000. Tags: neither

Uma vez eu era foda.

Aí todo o mundo ficou mais foda.

Fim da história.

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A Torre de Réaumur, uma espécie de Xanadu quintessencial

2014-06-19 05:09:54 +0000. Tags: sidartânia

Inigualável forte industrioso
Engenho e arte de sutil pujança
Etéreo baluarte majestoso
Veraz sinal de boa aventurança

És tu, frondosa Torre inabalável
Supremo bastião de permanência
Magnânimo construto imperturbável
Suave projeção da sapiência

Certeza inconfundível de vitória
Sublime comoção da vida inteira
Feliz morada, copiosa em glória
Terrível, formidável, derradeira

Pilar do mundo, vigoroso e belo
Arguta geometria poderosa
És tu assim, ó Torre, qual castelo
Perfeita em todo aspecto, valerosa

Assim enunciava o celebrado fragmento da Epopéia de Sigismundo, o Próprio, antigo imperador do Lácio Transacional, reino outrora situado ao norte da Sidartânia. Quinhentos e tantos anos, se não mais, já se haviam passado desde a queda do império; a Torre de Réaumur, todavia, mantinha-se firme onde fora deixada pelos monarcas que em tempos de antanho a erigiram e habitaram. Dizem as velhas tradições que aquele que for capaz de se apoderar da Torre adquirirá maravilhosos poderes de formidáveis proporções, bem como um excelente investimento imobiliário. Todavia, rezam as mesmas tradições que a referida Torre dispõe de uma vontade própria, e aquele que a tentar tomar sem contar com a simpatia da mesma está fadado a terríveis desastres e sofrimentos.

Diz ainda a Mishnah Apócrifa Número 37 que, através do uso cauteloso de encantamentos baseados na tradição oral em torno do culto a Alenderestenankwelissa, deusa sidartaniana das bigornas, protetora das elegantes melenas folclóricas do povo de Ulmarinna, seria possível encantar o espírito da Torre, garantindo assim a aquisição máxima dos poderes da mesma.

Após a queda do império, a região no entorno da Torre foi-se tornando despovoada. Ninguém vivia ou costumava andar num raio de quinze quilômetros da Torre. Ninguém sabia exatamente por quê. A trinta quilômetros dali, os camponeses do pacato vilarejo de Izburro seguiam tranqüilamente sua rotina. Alguns poucos estavam sentindo uma estranha ansiedade. À noite, o xamã, observando atentamente o céu e sentindo o vento em seu rosto, falou quietamente para ninguém em particular: "A Torre de Réaumur está nervosa hoje."

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Uma frivolidade semi-arcaica

2014-05-17 04:42:11 +0000. Tags: whatever

(Encontrei o que segue em um caderno velho, enquanto procurava papel de rascunho.)

Uma vez eu era um caderno. E a menina grafava furiosamente os mais ricos dizeres, sob a ortografia de 43. A nova ideologia do rei! O torpe fôlego que move o mundo! Poderia me escrever uma anarquista, mas não. Deita-me caracteres a leve mão de uma democrata. Uff!

Um dia vou ser minha própria caneta. Vou dizer tudo o que eu penso com o mais puro vigor. E ai daquele que tentar me dissuadir, ai dele! Visitar-lhe-á a própria morte.

Sou a corrente que segura a noite. Sou a fria estrela branca. Que é que eu sei dessas coisas? Eu sei da vida. A vida! A própria vida. A vida que traz e que leva, a vida que vem e que vai. Que é que há para saber? E no entanto ela se move.

Espero o ônibus sentado na vida. Se deus é a chama que se acende em partes e se apaga em partes, o ônibus é o antagonista magno do calor, é sua análise. Análise é o contrário da catálise.

Katharevousa. Eles clamitavam o nome do santo. Mal sabiam eles que o santo era um caderno.

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Da fulminante e providencial víscera de Ptolomeu, sine qua non

2014-03-20 01:40:22 +0000. Tags: sidartânia

Ditas aquelas palavras de dúbio encorajamento, Evaristo, Ermenegildo e Eratóstenes desceram a verdejante colina em direção ao locus das festividades de equinócio. Desfrutaram em silêncio do banquete e da música por alguns minutos. Subitamente, uma suave e firme voz emanou de trás dos três magos.

"Vossa empreitada é nobre, mas fadada ao fracasso."

Os três viraram-se imediatamente. "O quê?", disse Evaristo.

"O Método", prosseguiu a voz, que pertencia a uma menina. "É uma medida desesperada, altamente falível e pouco eficiente, em circunstâncias normais."

"Quem és?", disse Eratóstenes. "Como sabes o que pretendemos? Como sabes a respeito do Método? És muito jovem para tais conhecimentos.

"Tenho precisamente a idade que preciso ter", replicou a menina. Os sábios, estupefatos e incertos acerca do significado de tal proposição, preferiram não questioná-la.

"E o que queres dizer com 'em circunstâncias normais'?", prosseguiu Evaristo.

"Quero dizer, obviamente, que precisamos criar circunstâncias anormais", respondeu a jovem, com uma expressão de profunda impaciência no rosto.

"'Precisamos'? Que parte tens nisso, ó, magnânimo ente, qual seja o nome pelo qual atendes?"

"A resposta, para mim que se auto-intitula Kira, é não-trivial, e mais facilmente demonstrada em toda sua glória do que descrita pelos pobres vocábulos do linguajar terreno. Vinde e mostrar-vos-ei!", disse a menina, e dirigiu-se para as bordas da citadela sem olhar para trás. Os três sábios a seguiram.

Depois de dez minutos de caminhada, chegaram a uma pequena construção de pedra. A menina abriu a porta e entrou sem qualquer cerimônia. Os sábios a seguiram. Kira entrou em um cômodo auxiliar. "Aguardai", disse. Brevemente, retornou ao salão principal portando uma caixa de pedra gravada com inscrições cuneiformes e pictogramas. "Acho que não se fazem necessárias maiores explicações", disse.

Os três, após um segundo de silêncio ante tamanha surpresa, exclamaram em uníssono: "A víscera de Ptolomeu!"

A menina esboçou um sorriso pela primeira vez desde o princípio da interação. Os sábios, afinal, sabiam alguma coisa.

"Precisamente", disse. Evaristo ergueu a tampa da caixa, e lá estava não outra coisa senão a mui lendária e elegante víscera, em toda sua pompa. Constatando a veracidade da relíquia, Evaristo pôs-se a recitar ciclicamente as antigas sílabas de pujança etérea, as quais Ermenegildo, Eratóstenes e Kira puseram-se a repetir, com um, dois, três versos de atraso, respectivamente:

"Muilarenda hwirkelende
Kaldaresta maigwerende
Skaldaranta nirmenasta
Faldamanda twirkelasta"

Ao final da oitava repetição da poderosa estrofe, a caixa tomou um branco incandescente, ergueu-se no ar, e preencheu a sala em um clarão ofuscante. Os quatro seguiram recitando em um tom mais alto, até que luz e som gradativamente esmaeceram-se, esmaeceram-se, e em uns poucos instantes a sala fez-se perfeitamente escura e silenciosa, e não mais havia nem caixa, nem sábios, nem menina, nem coisa nenhuma.

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Uma pequena verborragia pré-onírica

2014-03-14 03:36:44 +0000. Tags: whatever

A fria concepção delgada de seu corpo era um gestalt antropomórfico, um miruvor feérico para a mente e o espírito. Seus agradáveis tons de voz, suaves como um gigantesco fole, delineavam a profunda e irrepreensível configuração cosmológica da própria existência, uma sintetização de tudo aquilo que podia ser expresso pelo cálculo lambda não-tipado. Nenhures se havia de achar silhueta de igual caráter e sinfonia, um alicerce fundacional da semântica axiomática definitiva da qual os homens são sedentos. Uma respeitável e ceruliforme potestade impérvia à vanidade mundana, uma fortaleza de magnitudes impraticáveis, um souvenir de tudo aquilo que poderia ser, revisto e ampliado pelo sangue e pela lágrima. Engenho e arte de súbitas e sutis proporções, intricados padrões interconexos pela vasta gama de sentidos polimórficos. Uma minuciosa combinação de fatores celestiais, cuja prova, auto-evidente, é aqui omitida por brevidade.

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#9

2014-03-06 04:05:00 +0000. Tags: neither

The couple sat on the top of the hill, illuminated by the shine of the full moon.

"It's hard to talk to you. You never get what I mean right", said the guy.

"I'm sorry", said the girl.

He sighed.

"No, it's not your fault. I guess we've just grown too different across the years. When you came after me, I guess you expected to find a very different person. We parted ways so long ago that I guess your memories of me became foggier and more idealized than reality. Or perhaps I just became shittier with time. You're just starting college and having plenty of cool activities and new experiences; I'm finishing college and am mostly full of it. You're so politically engaged and enthusiastic; I'm a disillusioned anarchist who has lost his faith in mankind's ability to manage itself without government but not his belief that anything else is unacceptable. Most of what I do is uninteresting or unintelligible to anyone outside my specialties. You missed me and came after me; I left you and many others in the past and had no interest in going back."

She remained silent. He kept the silence for a quarter of a minute.

"I'm really sorry", he said. And firming one foot on the ground, he leaped up into the dark sky.

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Da reação diante da visão por parte daqueles que viram

2014-02-22 04:59:30 +0000. Tags: sidartânia

Trinta quilômetros do ponto de onde a espantosa rocha erguia-se discretamente no firmamento, uma pequena colina servia de assento para três figuras silenciosas de barbas brancas e compridas e vestes escuras e longas. Era o ponto mais alto da Poligônia, um pequeno vilarejo onde todos se distraíam entre as festividades da noite de equinócio, ao som das violas anisomórficas e das vozes das jovens aldeãs. Todos exceto os três, que cuidavam atentamente os astros.

Quase imperceptivelmente, um pequeno ponto claro fez-se vagamente visível na abóbada celeste. Um dos três ergueu-se, para melhor observar.

"É nóis?", proferiu um dos que permaneceram sentados.

"Como é que é?", perguntou o terceiro.

"É ele", afirmou em voz baixa o primeiro, que parecia alheio à realidade terrena. "Tudo o que os anciãos disseram era verdade." Os outros se levantaram. A mancha luminosa permaneceu no céu por um não muito longo instante, e desapareceu.

"E agora?", perguntou o terceiro.

"Agora teremos que partir. E logo, pois é questão de uma ou duas auroras até eles atingirem a Torre de Réaumur."

"E como diabos vamos chegar lá antes deles?", perguntou o segundo. "Vamos levar no mínimo uma semana até lá."

"Não chegaremos primeiro, o que é uma lástima, mas não chega a ser um problema, desde que cheguemos em tempo. E não levaremos uma semana. Não se nós empregarmos o Método."

"O Método?", exclamaram os outros dois.

"Sim, o Método. É difícil e arriscado—"

"Muito arriscado!", exclamou o segundo.

"—, mas não temos coisa melhor. Teremos que consultar os velhos livros e recitar as longas tradições. Vinde! Desfrutemos pelos poucos instantes que temos da noite de equinócio, e apazigüemos nossos ânimos. A noite será longa."

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Precisamente desta maneira, mais ou menos

2013-10-26 07:17:11 +0000. Tags: poema

A flor é doce e ferrenha;
Dorme sobre a terra.
Quando foi a minha vez eu fiz errado
Nunca foi minha vez
Toda vez
Nenhuma vez
Em vez
Em vez de nada
Em vez de coisa nenhuma
A cigarra canta
A bateria toca
Os sândalos giram
Os vândalos piram
A verdadeira face
Sempre perdida
– perdida! –
Se mostra, sem pudor
Sem medo
Sem glória
Sem a menor importância
Sob o som do alaúde
– que virtude! –
Sobre o som da amargura
– que paúra! –
Sobre a vida e a morte
Se mostra, e se vai.

É a plantinha miserável
O broto indizível
Irrisório
Invisível
Compulsório
Irascível
Levado pelo berro do lobo
Tragado no consolo do belo
Pensado na cabeça do moço
A fuga de tudo o que é saudável e próprio
O abraço mortal da Catarina
A dança alucinatória da menina
Nada, nada é de propósito
Foi só o acaso do intento
O vento que embala a centelha
Vermelha, contida, perversa
Dispersa, sofrida, finita.

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